Superação: Após superar sequelas de um AVC e um infarto, Milton Lopes se formou em Odontologia aos 67 anos de idade

“A Odontologia, para mim, transcendeu a realização de um sonho de 1977. Ela se tornou a minha terapia e minha reabilitação ativa”, relata o cirurgião-dentista, que concluiu a graduação neste ano de 2025

Após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e um infarto, o primeiro em 2014 e o segundo em 2017, Milton Lopes realizou seu sonho de adolescência e, aos 67 anos de idade, se formou em Odontologia em agosto de 2025. Saindo da graduação, o cirurgião-dentista recém-formado já ingressou na especialização em Implantodontia. Para ele, a profissão é sinônimo de superação, realização pessoal e orgulho. Assim, mostra que, com foco e persistência, é possível conquistar aspirações antigas, as quais, no caso dele, quase 50 anos para serem realizadas.

Nascido no estado de Minas Gerais, na cidade de Juiz de Fora, Milton ia, desde criança, com seu pai às consultas odontológicas no Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg). E foram aí os seus primeiros contatos com a Odontologia.

Ele se encantou pela profissão, à época adolescente, observando atentamente os atendimentos realizados pelo cirurgião-dentista Valdir Jesuíno da Silva, que era amigo de seu pai. Valdir foi um grande incentivador para que ele cursasse a faculdade de Odontologia naquele período. “Um cirurgião-dentista muito humano, atendia sem se importar com as condições financeiras dos pacientes. Queria que eu fizesse Odontologia para, inclusive, trabalhar com ele”, lembra.

Porém, devido às dificuldades econômicas da família, Milton teve que adiar o sonho de um dia se tornar cirurgião-dentista. Dessa forma, precisou encontrar uma solução para obter respaldo financeiro que o permitisse cursar, mais tarde, a tão esperada Faculdade de Odontologia. A solução foi ingressar em um curso de Enfermagem.

“Em 1977, quase prestei o vestibular para Odontologia, mas as condições financeiras da época me impuseram uma escolha consciente e pragmática: optei pela Enfermagem e Obstetrícia como primeira e única opção. Uma área que me permitiu ingressar no serviço público e exercer uma função de grande impacto social e econômico”, pontua.

Após concluir o curso de Enfermagem, Milton, numa virada de destino, migrou para a área jurídica e cursou Direito. Mas ele reforça que a Odontologia sempre esteve presente, de alguma forma, em sua vida.

“Apesar da dedicação às carreiras de Enfermagem e, posteriormente, Direito, o destino parecia me empurrar de volta ao sonho. Recebia contratos de trabalho que vinham erradamente formatados como ‘Odontólogo’… E, curiosamente, minha sala de advocacia foi adquirida de cirurgiões-dentistas. Esses ‘acasos’ mantiveram o meu desejo ainda mais latente”, compartilha.

Milton relata que a motivação final e irrevogável, de fato, para ingressar na área odontológica veio acompanhada de dois episódios tristes de sua vida: um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 2014 e, três anos depois, um infarto; condições que lhe deixaram sequelas motoras.

Esse período difícil trouxe a ele a sensação de urgência em realizar sonhos e aspirações antigas. Assim, a graduação em Odontologia se tornou fundamental, e, nesse momento, sentiu que nada mais o impediria de se tornar cirurgião-dentista. Já com duas formações acadêmicas, a questão financeira deixou de ser um empecilho assim como o fator da idade.

Dessa forma, Milton conta que tornar-se cirurgião-dentista foi além da realização de um sonho: também o ajudou em sua reabilitação motora, representando uma das maiores superações de sua vida.

“Após o AVC e o infarto, minha visão de vida se tornou mais urgente. Apesar de ter enfrentado pequenas sequelas, a Odontologia se transformou em uma missão de vida, aliada a uma missão terapêutica. A prática manual na clínica, somada ao exercício diário da Advocacia, que exige constante leitura e concentração, assim como a Odontologia, fortaleceu meu objetivo profissional e pessoal. Essa dupla disciplina impulsionou minha reabilitação neuromotora, já que as habilidades exigidas e adquiridas pela nova profissão permitiram a superação das sequelas, hoje afastadas do meu cotidiano. Assim, sinto-me mais completo, exercendo a profissão que sempre quis”, enfatiza.

Odontologia: projeto de vida

Após o AVC e o infarto, foi na Odontologia que Milton encontrou seu novo propósito de vida. Ele prestou vestibular e, com a aprovação, deu início à realização do sonho de adolescência. E mais que uma nova profissão, ser cirurgião-dentista se tornou seu projeto de vida e uma terapia intensiva. “A Odontologia devolveu meus movimentos e se tornou meu novo propósito de vida”, destaca.

“As sequelas deixadas pelo AVC e pelo infarto, como o fantasma do esquecimento e as dificuldades motoras, especialmente nas mãos, exigiram um plano. A precisão e a concentração inerentes à Odontologia, a qual se tornou minha ferramenta mais poderosa para exercitar a mente e reabilitar a motricidade fina, usando a ciência e a arte odontológica para fortalecer meu corpo e minha mente”, relatou Milton.

Superando as dificuldades

Milton destaca que suas maiores dificuldades nos cinco anos de graduação foram superar o quadro clínico e as limitações que a própria idade já traz. “A idade, combinada às sequelas do AVC e do infarto, dificultavam a concentração e a memorização. Essa luta interna se tornou o foco do meu trabalho acadêmico: meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) abordou as dificuldades na Neurociência aplicadas à Odontologia, refletindo a necessidade de os professores possuírem conhecimento para ensinar neste campo”, destaca.

Em relação a iniciar uma nova graduação aos 62 anos, Milton relata que seu foco teve que ser redobrado, assim como o entendimento das disciplinas e o tempo de memorização, mas que o esforço e as trocas com os colegas de classe o ajudaram.

“Na interação com os colegas, a idade foi um fator de troca mútua. Minha experiência de vida e minhas carreiras anteriores agregaram uma visão madura sobre ética e o mercado de trabalho, enquanto os colegas mais jovens me ofereciam o entusiasmo e a familiaridade com as novas tecnologias”, ressalta.

História de vida e dedicação aos estudos

Milton dedicou sua vida ao trabalho e aos estudos. Cursou a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio em escolas públicas. Deu continuidade à sua educação, formando-se em Enfermagem, depois em Direito. E, já morando em Brasília, agora, em Odontologia.

“Minha jornada profissional começou como enfermeiro e obstetra em órgãos públicos municipal e estadual, onde adquiri uma forte base em humanização e saúde. Em seguida, busquei o Direito. A bagagem dessas múltiplas carreiras e algumas outras especializações me proporcionaram uma visão ética e holística do paciente”, conta.

Enfim, cirurgião-dentista!

“A sensação de me formar agora é de superação absoluta e total realização. É a prova viva de que não há dificuldade intransponível quando a determinação é forte. É o resgate de um compromisso de mais de quatro décadas e a celebração de ter transformado a fragilidade da saúde em uma nova e poderosa força para a vida profissional”, relata Milton ao compartilhar sua história com o CFO Esclarece Trajetórias.

Exercendo a profissão, Milton ressalta que seus atendimentos estão em constante evolução. Ele concilia, por enquanto, a Odontologia e o Direito, mas já está cursando uma especialização em Implantodontia, área pela qual se encantou durante a graduação e decidiu seguir, especialmente pela forma de como a especialidade devolve funcionalidade e autoestima aos pacientes.

“Meus atendimentos estão em pleno funcionamento, dividindo-me entre consultórios parceiros e a imersão técnica na especialização em Implantodontia, no Ipesp [Instituto de Ensino, Pesquisa e Pós-Graduação]. Essa experiência tem sido transformadora. Escolhi a Implantodontia por sua capacidade de promover uma reabilitação completa, indo além da função e da estética. É uma especialidade que permite restaurar a autoestima e a qualidade de vida das pessoas de forma integral, o que se alinha perfeitamente com minha jornada pessoal e de superação”, relata.

Para finalizar, ele completa que os estudos são as maiores conquistas da vida de uma pessoa e que não há idade e nem impossibilidades para que isso aconteça. “Os estudos são o maior desafio que um homem pode ter. Não importa sua idade ou as adversidades que enfrentou. Para mim, a Odontologia exigiu muita resiliência, mas, em troca, me ofereceu a oportunidade de recomeço, transformação e um impacto profundo na vida das pessoas”, conclui Milton.