Há evidências científicas apontando uma relação entre a periodontite e o desenvolvimento da aterosclerose em humanos, um dos fatores de risco mais importantes para a doença cardiovascular.
Esta é a conclusão de uma revisão sistemática de nove publicações de pesquisas realizada em um estudo feito pela dentista Adriana Paiva Camargo Saraiva, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP.
Tratamento de periodontite
A revisão identificou também que o tratamento periodontal é benéfico para controlar os riscos de desenvolvimento da aterosclerose.
O objetivo da revisão foi analisar as evidências científicas encontradas nos últimos dez anos entre a periodontite e aterosclerose em pessoas adultas.
O estudo é importante para subsidiar os profissionais de saúde no tratamento e na reflexão sobre a atenção à saúde do indivíduo como um todo, incluindo a saúde bucal.
O que é periodontite
A periodontite é uma doença inflamatória crônica que, se não tratada, leva a mobilidade e perda de dentes.
É mais comum ser diagnosticada por volta dos 35-40 anos de idade e tem uma alta prevalência, aproximadamente 50% da população adulta.
Entre os sintomas estão o mau hálito, inflamação e sangramento na gengiva.
Ligação entre periodontite e aterosclerose
“Ao analisarmos os dados das pesquisas, concluímos que dentre compostos químicos que refletem risco para aterosclerose, chamados de marcadores sistêmicos, relacionados com a fisiopatologia da doença, os fatores lipídicos, ou seja, as gorduras, parecem fornecer os resultados que melhor refletem a associação entre periodontite e aterosclerose. Em todos os trabalhos que avaliaram esses marcadores foram relatadas a sua elevação na presença de periodontite e redução após o tratamento periodontal”, afirma Adriana.
Outro achado da pesquisadora foi que quanto maior o grau de severidade e extensão da periodontite apresentados pela população amostrada nos estudos, mais evidentes as alterações locais e sistêmicas relacionadas com a aterosclerose, como lesões na parede interna das artérias e presença de compostos químicos indicadores de inflamação no sangue.
“Os estudos analisados mostraram que, embora as bactérias da periodontia tenham apresentado sensibilidade ao antibiótico, sem o tratamento mecânico da periodontite a antibioticoterapia não foi eficaz nem para prevenir eventos cardiovasculares recorrentes e nem para restabelecer a saúde periodontal,” explica.
Metodologia científica
Foram selecionados trabalhos publicados no período de janeiro de 1999 a julho de 2009, a partir dos descritores “periodontite, aterosclerose, doenças vasculares” e das palavras-chaves “tratamento periodontal e função endotelial”.
Adriana encontrou 532 trabalhos, na fonte de dados da MedLine e Biblioteca Cochrane. Os elegíveis foram 22, mas alguns eram duplicados e outros excluídos por não terem sido feitos em humanos.
No final foram selecionados nove que atenderam os seguintes requisitos: Eram de nível de evidência II, o que quer dizer que tiveram pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado. Eram pesquisas em humanos adultos, maiores de 19 anos, com diagnóstico de doença periodontal e que receberam tratamento para a doença e/ou antibioticoterapia que estabeleceram associação entre a periodontite e a aterosclerose. “O principal desfecho dessas pesquisas foi o fato de as pessoas desenvolverem a aterosclerose, ou de saúde-doença que estabeleceram associação entre a periodontite e a aterosclerose”, conta Adriana.
Importância de ir ao dentista
Para a professora Eugenia Velludo Veiga, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), da USP, orientadora da pesquisa, é necessário cuidar da saúde bucal antes da doença se estabelecer.
Já o professor Mario Taba Jr, da periodontia do Depto de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP), considerou os resultados de extrema importância, pois alertam a comunidade sobre a associação de problemas bucais, no caso periodontite, aparentemente relacionadas exclusivamente com a perda de dentes, com condições sistêmicas de alta prevalência na população, a aterosclerose.
“O tema não é novo, mas os estudos recentes de renomados pesquisadores é que tem atraído a atenção de toda a comunidade médica/odontológica, pois sugerem que cuidados simples e rotineiros como a escovação dentária e visitas regulares ao dentista podem ter grande impacto na saúde das pessoas”, destaca Taba Jr
Fonte: Agência USP – 30/04/2010