Pesquisa mostra o impacto provocado pelas dificuldades que grande parte dos idosos brasileiros enfrenta para mastigar. Sérios problemas dentários atingem fortemente a qualidade de vida na terceira idade e podem provocar até doenças cardiovasculares.
Os idosos brasileiros vão pouco ao dentista, não recebem orientações sobre como evitar problemas bucais, têm cáries não tratadas e, devido à grande quantidade de dentes perdidos, dependem do uso de próteses. O resultado é que metade deles têm dificuldades para mastigar os alimentos, o que reduz o consumo de fibras, frutas e vegetais, podendo desencadear desde problemas digestivos a doenças cardiovasculares. O alerta é de um estudo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), do Rio Grande do Sul, publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, da Fiocruz.
Os pesquisadores Marcos Pascoal Pautssi, Maria Teresa Anselmo Olinto e Juvenal Soares Dias-da-Costa lembram que a população está envelhecendo e que, portanto, o Sistema Único de Saúde tem de se adaptar à nova realidade. “No entanto, apesar de uma ampla modificação no SUS sobre medidas curativas e preventivas sobre a maioria das doenças bucais, muitos indivíduos são excluídos dos cuidados adequados”, alertam, no artigo.
De acordo com eles, um dos fatores de diminuição da qualidade de vida e da saúde geral dos idosos é a ingestão de bons nutrientes, o que depende dos dentes naturais ou de próteses bem adaptadas. “Mesmo a prótese não tem o mesmo poder de corte que os dentes naturais. E é importante lembrar que a digestão começa na boca”, diz a especialista em prótestes Selma Jebrine, da Odontoclínica, de Brasília.
A dona de casa Ledir Crelier, 67 anos, começou a ter problemas nos dentes aos 15. “Hoje, as crianças tratam desde cedo, mas antigamente não tinha nada disso”, afirma. Sem receber orientação adequada, ela extraiu dois dentes da arcada inferior direita e, agora, vai precisar fazer uma prótese. “Incomoda muito na hora de mastigar, principalmente quando como carne. Acabo colocando mais força no lado direito”, diz.
Quando as próteses não conseguem triturar os alimentos, os idosos precisam mudar seus hábitos alimentares. Em consequência, aumentam os problemas digestivos, já que o bolo alimentar também se transforma. “É importante ressaltar que a ingestão de nutrientes e a perda de peso têm sido associadas com perda de dentes, próteses inadequadas e função mastigatória insatisfatória em idosos. Nesse sentido, a dificuldade de mastigação pode afetar as escolhas alimentares, à medida que pode levar à preferência por alimentos moles, que podem ter menor valor nutritivo do que os ricos em vitaminas e fibras, como frutas duras e legumes”, afirma Marcos Pascoal Pattussi, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unisinos e um dos autores do artigo. “Além disso, a diminuição desses alimentos, decorrente da capacidade mastigatória alterada, está associada com o aumento do risco cardiovascular e de uma série de cânceres do sistema gastrointestinal”, complementa.
No artigo publicado pela Fiocruz, os pesquisadores citam um estudo realizado por cientistas chineses e americanos, de 2005. Foram avaliados 29.584 moradores da área rural. Os resultados mostraram que indivíduos com grande perda de dentes tinham 13% mais de risco de morrer, comparando-se aos demais. A falta de dentição aumentou em 35% a probabilidade de morte por algum tipo de câncer e em 28% por problemas cardíacos, além de significar um risco 12% maior de se sofrer ataques cardíacos.
Fonte: Correio Braziliense – 13/04/10