Investigação associa apneia em criança à má formação dentária.

O cirurgião dentista e pesquisador Almiro José Machado Júnior, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, vem se dedicando ao esclarecimento de uma doença pouco investigada em crianças: a síndrome da apneia obstrutiva do sono.
Em seu curso de pós-doutorado, o pesquisador está avaliando em crianças de 7 a 11 anos possíveis alterações na estrutura óssea dentária, que podem fornecer indícios sobre a existência da doença. As alterações serão analisadas por meio de um exame de telerradiografia cefalométrica. A avaliação indicará variações ósseas na face dos pacientes. A má oclusão dentária pode ser um dos fatores que esteja predispondo à apneia do sono, assinala Almiro Machado. “Vamos propor e avaliar o uso de um dispositivo maxilomandibular. Acreditamos que um tratamento odontológico que promova alterações na estrutura óssea dentária possa ser eficaz na intervenção da doença”, informa o pesquisador.
A terapêutica proposta após o diagnóstico da síndrome baseia-se na ortopedia funcional dos maxilares. O uso do aparelho removível permitirá um avanço mandibular e afastamento de lábio com alteração na postura da língua, explica o dentista.
“Algumas crianças que participam do estudo já estão usando este dispositivo. A ideia é avaliar se ele possui eficiência no tratamento da doença”, acrescenta.

Características e sintomas
Alguns sintomas como ronco, sono agitado, problemas comportamentais, hiperatividade, dificuldade de aprendizagem e irritabilidade podem dar pistas aos pais sobre uma possível ocorrência da enfermidade.
“A prevalência é de 1% a 5% em crianças, mas pesquisas recentes apontam que esta síndrome na população infantil está sendo subestimada pelo difícil diagnóstico. No Brasil não existe um estudo sobre o número de crianças com a doença. Mesmo no plano internacional existem poucas pesquisas sobre este tema em crianças. Há pouco conhecimento sobre o assunto, sobretudo pelos pais e familiares”, reconhece Almiro Machado.
Ele esclarece que a apneia do sono trata-se de uma doença descoberta recentemente. Crônica e evolutiva, a síndrome possui alta taxa de morbidade e mortalidade, apresentando um conjunto de sintomas variado, que vai desde o ronco até a sonolência excessiva diurna, com graves repercussões cardíacas, circulatórias, neurológicas e comportamentais.
“O diagnóstico positivo ocorre quando a passagem do ar é inibida por pelo menos 10 segundos, tanto em crianças como em adultos. Só que no adulto, essa pausa respiratória deve suceder, no mínimo, cinco vezes por hora, enquanto que nas crianças isso pode ocorrer apenas uma vez”, exemplifica.

Polissonografia
Antes de avaliar as possíveis alterações ósseas, os pacientes são submetidos a outro exame para diagnosticar a existência da síndrome. Trata-se da polissonografia, diagnose considerada parâmetro para este tipo de doença.
“A polissonografia é o exame “padrão ouro” para se identificar a apneia. Ainda estamos na fase de seleção de voluntários para a realização das investigações. Apesar de não ser invasivo, é um exame difícil de ser feito, muito trabalhoso, principalmente em crianças”, admite o dentista.

Fonte: Unicamp