Inca prevê cerca de 14 mil casos de câncer de boca em 2005

A cada ano, são diagnosticados, no Brasil, mais de 10 mil casos de câncer de boca, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Destes, 80% são detectados tardiamente, quando a doença está em estágio bastante avançado. Isto faz com que a metade destes pacientes tenha sobrevida média de cinco anos. Grave é que, entre os cânceres, este é o de identificação mais fácil – basta realizar o auto-exame.

Para ajudar na conscientização da importância da higiene bucal, da visita periódica ao dentista e da realização do auto-exame, o 23º Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo (CIOSP), juntamente com a APCD (Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas), realizará a “Campanha de Prevenção e Detecção Precoce do Câncer de Boca”. O Congresso acontece de 23 a 27 de janeiro de 2005, no Pavilhão de Exposições do Anhembi.

Segundo o Ministério da Saúde, mais de três mil pessoas morrem em decorrência do câncer de boca por ano. Por isso, um dos objetivos do 23º CIOSP é gerar parcerias entre as instituições que possam atuar no campo da prevenção. Durante o Congresso, a “Campanha de Prevenção e Detecção Precoce do Câncer de Boca” irá examinar a população, orientar e estimular o auto-exame. Além disso, vai realizar, se necessário, exames complementares, como biópsia, citologia esfoliativa e azul de toluidina nos pacientes que apresentarem lesões bucais clinicamente suspeitas ou potencialmente cancerizáveis.

De acordo com o cirurgião-dentista Celso Augusto Lemos Junior, coordenador da Campanha e especialista em Estomatologia, o aumento do número de casos vem fazendo com que, entre os tipos de câncer, o bucal seja a nona causa de mortalidade. “O quadro de diagnóstico é o mesmo dos últimos 40 anos, ou seja, continuamos detectando tardiamente os casos de câncer, inclusive o bucal. Triste, porque este tipo de câncer tem tudo para ser diagnosticado cedo, já que é possível realizar a auto-análise, em frente ao espelho”, explica. Quando as lesões são diagnosticadas precocemente há, praticamente, 100% de chances de cura, com qualidade de vida excelente no pós-operatório.

O câncer de boca atinge três vezes mais homens do que mulheres, em geral, acima dos 40 anos. Isto porque está diretamente associado ao fumo e ao consumo de álcool em excesso. Além disto, atinge mais a população que não tem cuidados com a saúde bucal, em especial com a higiene, sendo 50% dos doentes analfabetos, que ganham até um salário mínimo.

“O câncer de boca só dói quando está em estágio bastante avançado, portanto com um tamanho muito grande”, alerta Lemos. “A principal atitude para reduzir o risco de ter a doença é cessar com o fumo e o álcool em demasia. Além disso, é essencial o cuidado com a higiene e analisar cada canto da boca periodicamente no espelho. Detectadas manchas vermelhas ou brancas ou feridas que não cicatrizam em 15 dias, a pessoa deve procurar, imediatamente, orientação profissional”, completa.

No próprio SUS (Sistema Único de Saúde) existem dentistas desta especialidade, que podem realizar um exame visual mais detalhado e, se for o caso, realizar uma biópsia. Constatada a lesão neoplásica maligna (câncer), o paciente é encaminhado a um especialista de cabeça e pescoço e ao oncologista. Mesmo assim, o cirurgião-dentista continuará acompanhando o caso.

Estes profissionais irão trabalhar em conjunto até a internação para realização da cirurgia, pois, “para que a operação possa ser feita, é necessário que o paciente não possua outras lesões (cáries, raízes sobrando, tratamento de canal interrompido, entre outras)”, conta o especialista.

Além disso, no tratamento de qualquer tipo de câncer que seja necessário utilizar rádio ou quimioterapia, um dos efeitos colaterais é a destruição das glândulas salivares, provocando o ressecamento da boca, o que prejudica a fala e a alimentação, multiplicando por dez as chances de incidência de cárie. “A saliva é uma proteção orgânica natural contra as cáries. Sem sua produção, a consulta regular ao dentista passa a ser mensal, em vez de semestral”, orienta o estomatologista.

Lemos acredita que projetos como o “Brasil Sorridente”, do Ministério da Saúde, “possam amenizar o problema do câncer bucal e de outras doenças da boca”. Para o dentista, “o maravilhoso, quando se pensa em um programa nacional, é que ele prevê o acesso de todos os cidadãos”. De acordo com o especialista, nunca se investiu tanto na odontologia. “Acredito que, a médio prazo, reduzirá em muito os casos de diagnóstico tardio do câncer bucal. Além disso, este programa realiza também a conscientização da importância do cuidado com a higiene bucal e da visita periódica ao dentista”, explica.

“Campanha de Prevenção e Detecção Precoce do Câncer de Boca”
do 23º CIOSP

Durante o Congresso, haverá estrutura para realizar o atendimento de 4 mil cidadãos. Para que isto seja possível, 150 pessoas – entre cirurgiões-dentistas formados ou em formação, cirurgiões-dentistas com especialidade em estomatologia, médicos de cabeça e pescoço e cirurgiões em geral – estarão envolvidas diretamente com a realização dos exames. “Se algum caso for detectado ou se suspeite de uma lesão cancerígena o paciente será convidado a realizar a biópsia ali mesmo”, conta o especialista. O resultado sai em até 72 horas e confirmadas as suspeitas o paciente será encaminhado para os hospitais que estão fechando parceria com o 23º CIOSP para dar continuidade ao tratamento. “Pior que detectar a doença é saber que você a tem e não saber quando, como e onde tratar”, diz.

Já diziam os antigos, “melhor prevenir que remediar”. “Realize sua higiene bucal três vezes ao dia com escova e fio dental. Não esqueça de fazer o auto-exame de boca. Em famílias com pacientes que fumam e bebem em excesso deve haver um cuidado especial com a limpeza e análise da boca.”, aconselha Lemos.

São Paulo – SP