Humor e Odontologia

Pelo portal do CFO, CDs discutem imagem da profissão veiculada na série Toma Lá Dá Cá, da TV Globo. Para 53,76%, personagem de Diogo Vilela não prejudica conceito da Odontologia na sociedade.

No ar desde julho, o fórum do site do Conselho Federal de Odontologia (CFO) abriu espaço para que os internautas repercutissem a pergunta lançada pela enquete: você acha que o personagem do humorístico Toma Lá Dá Cá (TV Globo) que é cirurgião-dentista prejudica a imagem dos profissionais de Odontologia?

A questão foi motivada pela queixa, via e-mail, de um especialista sobre a representação negativa dos profissionais de Odontologia no programa de televisão.

Votação equilibrada
Até o dia 22 de setembro, 38.253 pessoas haviam participado da enquete e o resultado revelou a vantagem da opção “não”, com 53,76% dos votos. No entanto, durante o período em que o fórum ficou no ar, “sim” e “não” alternaram posições diversas vezes demonstrando o equilíbrio de opiniões sobre o assunto.

Debate
Profissionais de diferentes estados do País debateram o tema no espaço dedicado aos comentários sobre a enquete no site do CFO. Através das justificativas dos votos, pode-se observar como questão central a preocupação dos cirurgiões-dentistas com o papel do profissional na sociedade atual.

Para Marcela Guerra, de São Paulo, o programa humorístico chama a atenção dos espectadores para as carências na área da Odontologia possibilitando que os problemas sejam discutidos e resolvidos.  “O programa de caráter humorístico mostra onde estão as falhas para que todos prestem atenção”, argumenta.

Mercado de trabalho e formação profissional
Heliane Medeiros, de Mato Grosso, acha que o personagem Arnaldo apresenta a realidade da categoria. Ela acredita que os CDs no Brasil, de maneira geral, são mal remunerados.  “Os salários dos profissionais que trabalham no serviço publico são uma vergonha. Não devemos nos indignar com o personagem, mas, refletir e lutar por condições melhores de trabalho”, diz.

Outras questões foram abordadas pelos internautas como a saturação do mercado de trabalho e estrutura educacional. Segundo Jurema Simão, do Rio de Janeiro, “por haver um excesso de profissionais, os dentistas estão passando por muitas dificuldades”. Para ela, o programa mostra essa situação.

Sérgio Vieira, também do Rio, concorda e diz que “cada vez mais profissionais são jogados semestralmente em mercados saturados, sem capacidade de absorver toda essa mão-de-obra qualificada”. No entanto, para ele, “o personagem é um dentista enrolado, chamado pejorativa e propositalmente pela sogra de protético. Ela implica com ele sempre que pode e o personagem apenas retrata, de forma bem-humorada, um dentista que poderia ser um médico, advogado ou qualquer outro profissional”.

Do Distrito Federal, Susy Simões acredita que o papel do profissional de saúde em Odontologia deve ser resgatado. Segundo ela, “isso demanda mudanças na estrutura educacional de formação do CD e expansão da percepção dos colegas que já estão atuando no mercado de trabalho. Desse modo, seremos reconhecidos, respeitados e remunerados adequadamente como profissionais de saúde pela sociedade e, muito dificilmente, seremos motivo de piadas”.

Caroline Fernandes, da Bahia, acha que o seriado reforça uma visão negativa da categoria. “O dentista é discriminado demais (fora o salário). Na televisão só aparece dentista pobre ou como esse personagem. Já viram algum médico ou psicólogo pobre na TV?”,  ressalta.

Ficção ou realidade?

Procurada pelo Jornal do CFO, para comentar sobre a repercussão do personagem Arnaldo na sociedade e as conseqüências para a imagem do profissional de Odontologia, a representante da assessoria de imprensa da TV Globo, Juliana Lang, respondeu que o programa Toma Lá Dá Cá, por ser uma obra de ficção, não tem compromisso com o real. Segundo ela, o personagem interpretado por Diogo Vilela incentiva a discussão sobre esta área da saúde.

De acordo com a emissora, “os programas humorísticos são notadamente obras de ficção que não têm compromisso algum com a realidade. Estão inseridos na categoria “entretenimento”. Sem entrar em juízo de valor, o personagem Arnaldo, em “Toma Lá Dá Cá”, tenta chamar a atenção para condições de saúde, muitas vezes negligenciadas por boa parte da população, tendo como pano de fundo o humor. Ficamos felizes por acrescentar ao papel de entreter um instrumento a serviço de reflexões e discussões que objetivem o progresso social”.

Os CDs já foram representados outras vezes na televisão e no cinema. A atriz Maria Mariana interpretou recentemente uma profissional dedicada à família e ao trabalho, no seriado “Um Menino Muito Maluquinho”, da TV Brasil. No cinema, um dos destaques é o clássico “A Pequena Loja dos Horrores”, um dos primeiros filmes de humor negro que tinha como um dos principais personagens um estranho dentista. Atualmente em cartaz, o filme “Se beber, não case” tem, entre seus protagonistas, um cirurgião-dentista.