Entrevista: Maria Celeste Morita, pesquisadora responsável pelo “Perfil do Cirurgião-Dentista Brasileiro”

Leia entrevista exclusiva com a pesquisadora responsável pelo “Perfil do Cirurgião-Dentista Brasileiro”, a ser lançado ainda este ano.

Em outubro, mês em que se comemora o seu Dia, o Cirurgião-Dentista ganhará o mais completo levantamento socioeconômico e acadêmico já realizado. A necessidade do estudo, iniciado em agosto passado, foi determinada pela participação crescente do cirurgião-dentista nos serviços públicos de saúde.

Segundo a cirurgiã-dentista Maria Celeste Morita, responsável pelo “Perfil do Cirurgião-Dentista Brasileiro”, a pesquisa “tem vários ineditismos”. “Primeiro porque congrega diferentes bancos de dados. Segundo porque se propõe a estabelecer o diálogo entre várias entidades que recolhem informações sobre o cirurgião-dentista brasileiro”, explica. Morita é professora da Universidade Estadual de Londrina e doutora em Saúde Pública/Epidemiologia pela Universidade de Paris VI, e integra comissões especiais dos Ministérios da Saúde e da Educação.

A pesquisa foi desenvolvida em conjunto com o Observatório de Recursos Humanos Odontológicos da Universidade de São Paulo/ Rede de Observatórios OPAS e o Conselho Federal de Odontologia (CFO), além de diversas entidades odontológicas e órgãos federais.

 

Esta é uma pesquisa inédita e ambiciosa. Como tem sido o processo de trabalho?

A pesquisa, de fato, tem vários ineditismos. Primeiro porque congrega diferentes bancos de dados. Segundo porque se propõe a estabelecer o diálogo entre várias entidades que recolhem informações sobre o cirurgião-dentista brasileiro. O trabalho de cooperação e o estabelecimento de metas conjuntas não é tarefa simples. Durante o processo estiveram conectados, por videoconferência, o Ministério da Saúde, em Brasília, com a participação do Departamento de Gestão da Educação na Saúde, proponente do estudo, do Departamento de Atenção Básica, da ABO e da ABENO; o Conselho Federal de Odontologia, detentor do maior banco de dados, no Rio de Janeiro; o Observatório de Recursos Humanos Odontológicos da USP, em São Paulo, com a participação da APCD; a UFMG, em Belo Horizonte, com a participação da representação da área na CAPES, e a UEL, em Londrina, de onde participei como pesquisadora responsável. Além das entidades citadas, colaboraram na produção dos dados o INEP, a CAPES e a Receita Federal. O estudo teve seu início em agosto de 2008 e tem previsão de divulgação de resultados para outubro de 2009. O avanço só foi possível porque contou com o envolvimento das instituições e das pessoas que as representaram. Tivemos um cronograma de trabalho extenuante, mas motivador tanto pelo ineditismo como pela relevância do trabalho em execução.

 

“A PESQUISA TEM VÁRIOS INEDITISMOS

 

O que a Odontologia ganha com a pesquisa?

As entidades parceiras têm, isoladamente, diversos dados sobre os cirurgiões-dentistas brasileiros. A articulação desses dados tem produzido informações significativas, capazes de aprofundar o conhecimento sobre a realidade desses profissionais. Ao mesmo tempo, o processo tem permitido o aperfeiçoamento dos bancos de dados. Por exemplo, quando uma pergunta relevante não pode ser respondida é porque há lacuna no sistema de coleta dos bancos de dados. Temos identificado essas situações, contribuindo para o seu aperfeiçoamento. Segundo Ana Estela Haddad, diretora do DEGES-MS, a necessidade do estudo surgiu pela ampliação da participação do cirurgião-dentista nos serviços públicos de saúde. A rede de Observatórios em Recursos Humanos já vinha desenvolvendo estudos sobre outras profissões, como médicos e enfermeiros, mas nada havia sido proposto para o cirurgião-dentista. Foi então criada uma estação de pesquisa em saúde bucal da Rede de Observatórios, sediada na USP, que abrigou a proposta. 

 

A publicação terá também uma versão eletrônica. Ela poderá ser atualizada periodicamente?

Esse é talvez o maior dos ganhos que poderemos produzir. Como a versão eletrônica é facilmente atualizável, podemos ter a atualização freqüente. A periodicidade em que isto vai ocorrer será estabelecida entre os parceiros.

Acompanhando a evolução da pesquisa, me impressionou o grau de refinamento. O perfil revelará surpresas?

Há muitas informações surpreendentes. Entre elas destaco a que se contrapõe ao senso comum sobre a renda do cirurgião-dentista brasileiro. Frequentemente ouvimos que o CD vem diminuindo drasticamente seus ganhos. Ao analisarmos os dados de renda, vemos que não é bem assim. As faixas de menor renda na Odontologia estão reduzindo de tamanho. Assim como a de maior renda. Assim, é possível ver que a profissão se desloca para rendas médias e, ainda, temos a segunda melhor renda comparada com grupo de profissões na área da saúde.

Há pesquisa similar?

Do que está publicado, o perfil dos médicos é o que tem maior grau de detalhamento. Na pesquisa sobre o Perfil do CD, o que surge de novo é uma atuação integrada, explorando dados secundários. Para se ter um exemplo, a riqueza de informações é proporcional ao desenvolvimento tecnológico. Há quanto tempo temos banco de dados digitalizados nas Instituições? Hoje, com um clique, em segundos podemos obter diversas informações, agilizando a execução de etapas que no passado demandariam um enorme tempo para ser empreendidas. O custo também é reduzido pela economia de deslocamentos e a possibilidade de trabalho em tempo real permitida pela videoconferência. É dentro desse contexto que a proposta da pesquisa surge e inova, colocando a tecnologia a serviço da Odontologia brasileira.

 

Colaboradores da pesquisa

Participam da pesquisa para o “Perfil do Cirurgião Dentista Brasileiro”

Ana Estela Haddad – Diretora do Depto de Gestão da Educação na Saúde/Ministério da Saúde

Isabela A. Pordeus – Representante da área Odontologia/CAPES

Janaína R. Cardoso -Representante do Depto de Atenção Básica/MS

João Humberto Antoniazzi – Representante da APCD

Luciano M.S. Barreto – Gerente de Tecnologia da Informação –CFO

Luiz R.Craveiro Campos-Vice-Presidente da ABO nacional

Maria Celeste Morita – Pesquisadora Responsável do estudo -UEL

Maria Ercília de Araújo – Coordenadora do OBRHO-USP

Miguel A. S. Nobre – Presidente do CFO

Silvio J. Cecchetto – Presidente da APCD

Orlando Ayrton de Toledo – Presidente da ABENO

 

Marcelo Pinto, publicado originalmente no Jornal do CFO edição 89-90 (2009)