Dia Mundial do Diabetes: entenda a relação entre a doença e a saúde bucal

Pacientes com diabetes possuem maior risco de problemas como cárie, gengivite, periodontite e infecções fúngicas orais

O diabetes, doença crônica causada pela produção insuficiente ou má absorção de insulina pelo organismo, se não tratada e controlada, pode levar a complicações graves no corpo, como problemas cardíacos, acidente vascular cerebral (AVC), doenças renais e dos nervos, perda de sensibilidade e danos aos olhos. No que se refere à saúde bucal, a doença pode aumentar o risco de cárie, gengivite, periodontite e infecções fúngicas. Isso ocorre porque o alto nível de glicose no sangue favorece o desenvolvimento de inflamações e infecções na cavidade bucal.

No Dia Mundial do Diabetes, celebrado em 14 de novembro e criado conjuntamente pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1991, o Sistema Conselhos de Odontologia, composto pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) e pelos 27 Conselhos Regionais (CROs), alerta sobre a importância dos cuidados preventivos e do controle da doença crônica, especialmente em relação aos impactos na saúde bucal.

Diabetes e a saúde da boca

Com a descompensação ou o descontrole do diabetes, os níveis de glicose no sangue se elevam e podem enfraquecer o sistema imunológico. Esse quadro impacta a saúde bucal do paciente, deixando-o mais suscetível a infecções bacterianas e fúngicas na boca. A principal consequência do diabetes é a doença periodontal, que afeta os tecidos de suporte dos dentes; uma inflamação que inclui a gengivite e a periodontite, sendo a primeira o estágio inicial e a segunda o estágio avançado.

“Com a inflamação, há um assolamento dos tecidos de suporte, o que pode causar sangramento, retração gengival, mobilidade do dente e levar à perda desse elemento dentário”, explica a cirurgiã-dentista e mestre em Estomatologia, Fabiana Quaglio, que também é Coordenadora Científica da Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas (ABCD) e membro da Comissão da Mulher do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP).

Outro problema ocasionado pelo diabetes é a xerostomia, ou boca seca, que diminui a produção de saliva. Essa desidratação altera as glândulas salivares e aumenta o risco de cárie. “A saliva é essencial para proteger os dentes. Sua redução eleva o risco de cárie e infecções, pois, com menos saliva e maior presença de glicose na boca, há uma maior proliferação de bactérias cariogênicas”, reforça Fabiana.

A associação entre uma alimentação inadequada e uma higiene bucal deficiente também favorece, além da cárie, o crescimento de um fungo específico, a Candida albicans, que pode causar placas brancas e densas, resultando em desconforto na mucosa bucal. 

Além disso, o paciente pode apresentar demora na cicatrização de procedimentos realizados na boca, aspecto característico do diabetes. Assim, qualquer processo cirúrgico, até mesmo uma simples mordida no lábio, uma afta ou outro machucado, pode demorar mais para cicatrizar. Isso ocorre devido à hiperglicemia, que compromete a irrigação e a resposta inflamatória do organismo, causando atraso na recuperação dos tecidos após uma extração dentária, cirurgia ou ferida na mucosa. 

“Pacientes com diabetes precisam seguir corretamente o tratamento e adotar uma rotina de cuidados com a saúde, incluindo consultas regulares ao cirurgião-dentista. Esse acompanhamento permite identificar e tratar precocemente possíveis alterações bucais, assegurando uma boa saúde oral ao longo da vida. O fundamental é evitar o agravamento das condições, principalmente com a prevenção, que continua sendo o melhor caminho para manter a boca saudável”, enfatizou Fabiana Quaglio.

Prevenção e controle

Entre as principais medidas preventivas a serem tomadas pelos pacientes com diabetes, está um rigoroso controle da glicemia, o que é fundamental para a saúde da boca e do corpo. Nesse sentido, destaca-se a importância do trabalho de uma equipe multiprofissional de saúde no atendimento ao paciente.

No que se refere à saúde bucal, os pacientes devem manter hidratação constante da boca e, se necessário, utilizar saliva artificial, disponível atualmente em spray, balas, pastilhas e géis aquosos. Evitar o consumo de tabaco e álcool também é fundamental, pois ambos agravam as doenças periodontais, dificultam a cicatrização e podem causar lesões potencialmente cancerígenas.

Além disso, é fundamental uma rotina adequada de cuidados orais: “A higiene bucal adequada deve incluir a escovação dos dentes, pelo menos, três vezes ao dia, utilizando creme dental com flúor e o uso do fio dental diariamente, de preferência em todas as escovações. Também é importante escovar a língua, limpar a mucosa bucal de forma geral e utilizar antissépticos sem álcool [sob orientação do cirurgião-dentista], para evitar o ressecamento da mucosa bucal”, destacou Fabiana Quaglio.

As consultas regulares ao cirurgião-dentista devem ocorrer, no mínimo, a cada seis meses, ou em intervalos menores, conforme a orientação do profissional. Nessas consultas, são realizadas avaliações periodontais, além de procedimentos de raspagem e polimento coronário e radicular, com o objetivo de prevenir a gengivite e a periodontite, além de controlar possíveis infecções fúngicas, se houver.