O cirurgião-dentista, especialista em Odontologia Legal, Eduardo Daruge, da Unicamp, foi homenageado, no dia 21 de abril, em Ouro Preto, Minas Gerais, com a Medalha da Inconfidência. A homenagem se deu em uma cerimônia solene que contou com a presença, entre outras autoridades, da presidente Dilma Rousseff , do governador de Minas, Antonio Anastasia, e da ministra da Cultura, Ana de Hollanda.
A comanda foi entregue por determinação da Presidência da República, após ter sido divulgado que a equipe de pesquisadores liderada por Daruge identificou a ossada de três membros que participaram da Inconfidência Mineira, movimento ocorrido em Minas, no final do século XVII, que tinha como objetivo a independência do Brasil. O movimento, no entanto, foi uma tentativa fracassada que resultou na morte e no exílio dos rebeldes.
Os restos mortais identificados são de Domingos Vidal Barbosa, que presumivelmente morreu entre 30 e 32 anos, João Dias Mota, que teria 50 anos, e José de Resende Costa, 70 anos. As mortes teriam ocorrido há aproximadamente 200 anos, período em que os três haviam sido degredados para a África, por decreto da então rainha de Portugal, D. Maria I.
Os três corpos estavam enterrados na Vila de Cacheu, uma região tribal da Guiné Portuguesa. Os restos mortais, no entanto, só foram transferidos para o Brasil em 1932. Eles estavam todos misturados em uma única caixa e desde então estavam no arquivo histórico do Itamaraty, no Rio de Janeiro.
Por volta de 1993, os restos mortais chegaram às mãos da equipe de pesquisadores liderada por Daruge, que trabalhou na reconstituição das ossadas e na identificação dos inconfidentes por oito anos, sem receber qualquer espécie de auxílio financeiro, tanto por parte do governo quanto da iniciativa privada.
Conforme conta o pesquisador, quando o material chegou às mãos de sua equipe, havia apenas um crânio, partido em cerca de 140 pedaços, e outras centenas de fragmentos de ossos. O crânio, que precisou ser reconstituído, pertecia a José de Resende. Já de Domingos e João Dias, não havia crânio, somente poucos ossos restantes.
Para realizar a identificação dos restos mortais, Daruge e sua equipe utilizaram técnicas de densitometria óssea e radiograsáfico. Depois de muitos estudos e exames, a reconstituição do crânio de José Resende foi finalmente feita em colaboração com a University College London, na Inlgaterra, onde foi realizada uma tomografia computadorizada em três dimensões.
“Eu me sinto muito honrado em receber tal prêmio. Faz mais de 54 anos que me dedico à vida universitária, especialmente nas áreas de Odontologia e Medicina Legal, e me deixa extremamente lisonjeado ter podido fazer parte de um projeto como este, no qual dediquei meu tempo e, inclusive, dinheiro do meu próprio bolso. Essa descoberta é um marco histórico para todo o povo brasileiro, para a história e nacionalidade brasileiras”, declara o cirurgião-dentista.