ARTIGO
Dra. Maria Lúcia Zarvos
A saúde pública de nosso país está sofrendo com a infestação do Aedes Aegypti, que trouxe graves problemas aos brasileiros, entre eles, a epidemia do zika vírus, cujas mães infectadas deram à luz a bebês com microcefalia. Existem 3.600 espécies de mosquitos no mundo que transmitem as arboviroses e atualmente, 3,9 bilhões de pessoas estão ameaçadas por elas.
A microcefalia é uma doença rara em que a cabeça e o cérebro da criança são menores do que o normal para a sua idade; normalmente é diagnosticada no começo da vida, influencia diretamente no desenvolvimento mental da criança e já é considerada uma epidemia.
Os indivíduos com microcefalia podem ter atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e a gravidade das sequelas pode variar de caso para caso – a cognição pode não ser afetada, mas quando prejudicada, pode haver prejuízo das habilidades adaptativas como o relacionamento, fala e autocuidado. Ainda, pode haver perda visual e auditiva, epilepsia, paralisia, autismo e rigidez muscular.
Embora os casos recentes estejam sendo atribuídos à infecção de mães pelo zika vírus, há outras causas para a microcefalia como: genéticas, infecciosas, substâncias tóxicas, desnutrição, envenenamento por metais pesados, HIV materno, uso de anticonvulsivantes e hepatite ou câncer no primeiro trimestre de gestação, quando se dá a organogênese no bebê. Algumas síndromes genéticas podem estar relacionadas à microcefalia como a Síndrome de West, Síndrome de Rett, Síndrome de Down e Síndrome de Edwards.
As pessoas com microcefalia tem alta incidência de doenças bucais, em função da dieta, alterações salivares, dificuldade de compreensão e realização da atividade de higiene bucal e alterações de mastigação e deglutição.
O papel do cirurgião-dentista na manutenção da saúde bucal para a saúde geral do paciente é fundamental, devendo contar com a aproximação gradativa e sensibilização do paciente, além de conscientizar a família sobre a importância do tratamento preventivo, e da adesão às ações propostas. Necessidade de sedação e atendimento hospitalar são situações que devem ser levadas em conta para estabelecer o plano de tratamentos desses pacientes. Alguns dos principais achados bucais costumam ser doença periodontal, cárie, má oclusão, micrognatia, atraso na erupção dentária, disfagia, bruxismo e traumatismo bucal.
Para uma correta abordagem e tratamento destes pacientes, o profissional deve formar o vínculo entre eles, quando possível e com os familiares/responsáveis. O apoio de técnicas de estabilização na cadeira odontológica, a anamnese e abordagem condizente com a capacidade cognitiva do paciente, também fazem parte do processo. Avaliar as condições sistêmicas para um tratamento integral e seguro é essencial para evitar iatrogenias, tornando imprescindível o bom relacionamento com a equipe interprofissional, bem como a adoção de práticas colaborativas entre os mesmos, para otimizar as ações que são feitas isoladamente e possibilitar o desenvolvimento e qualidade de vida do mesmo.
Maria Lucia Zarvos Varellis é Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais
Presidente da Comissão de Registros de TSB, ASB, TPD, APD e Laboratórios de Protese do CFO
Doutoranda Oncohematologia