O Programa CFO Esclarece explica os impactos desses hábitos para a saúde bucal das crianças e faz um alerta sobre o momento certo da família intervir

A sucção é um reflexo essencial para recém-nascidos, sendo fundamental para a alimentação e desenvolvimento orofacial, além de contribuir para fortalecer o vínculo materno. Por outro lado, o uso de bicos artificiais é desaconselhado, pois pode promover o desmame precoce, privando a criança de todos os benefícios do aleitamento materno.
Muitas crianças acabam substituindo a sucção no seio materno por chupetas, quando estas são oferecidas pelos pais ou responsáveis, ou por chupar dedo. Embora tenham o efeito de acalmar os bebês, esses hábitos são deletérios, ou seja, comportamentos repetitivos que podem causar danos à saúde bucal das crianças.
Por isso, o Sistema Conselhos de Odontologia, composto pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) e os 27 Conselhos Regionais de Odontologia de todo país, faz um alerta, através do programa CFO Esclarece, para que pais e cuidadores se atentem aos prejuízos da utilização de chupetas e do hábito de chupar dedo, sendo fundamental que observem o momento ideal para intervenções.
A professora e vice-presidente da Associação Brasileira de Odontopediatria Nacional (ABOPED), Letícia Vieira Pereira, destaca que a primeira infância é um período decisivo para o desenvolvimento bucal, exigindo atenção especial aos hábitos que podem influenciar a saúde oral das crianças.
“Hábitos não nutritivos na primeira infância, tais como dedo ou chupeta, trazem consequências prejudiciais ao crescimento e desenvolvimento bucal infantil, com alterações na arcada dentária e na face”, aponta Letícia Vieira Pereira.
Impactos odontológicos
A cirurgiã-dentista e professora universitária Elisa Maria Rosa de Barros Coelho, especialista, mestre e doutora em Odontopediatria, explica que o uso precoce da chupeta pode reduzir o tempo do aleitamento materno das crianças e favorecer o estabelecimento de padrões respiratórios inadequados, como a respiração bucal.
O uso prolongado interfere no desenvolvimento da musculatura orofacial e no crescimento da face, podendo levar à mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior e posicionamento incorreto da língua, com impacto direto na função e harmonia orofacial da criança.
Além dos impactos iniciais no desenvolvimento bucal, os hábitos não nutritivos podem desencadear uma série de alterações funcionais e estruturais que afetam diversas áreas da vida da criança. É fundamental compreender a extensão dessas consequências para orientar práticas preventivas e intervenções adequadas.
“As alterações encontradas são a mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior, favorecendo a respiração bucal, deglutição atípica, comprometendo a fala, o sono, o comportamento e aumentando o risco de doença cárie”, complementa a professora Maria Aparecida Moreira Machado, tesoureira da ABOPED Nacional.
Deve-se considerar, ainda, que a força e a frequência da sucção são fatores determinantes da gravidade das alterações. Enquanto o comportamento persistir, os pais precisam dar especial atenção à higienização da chupeta, que deve ser lavada diariamente com água e sabão neutro. Além disso, o bico nunca deve ser utilizado como veículo para substâncias doces, como mel ou açúcar.
Já o hábito de chupar o dedo pode causar alterações semelhantes às provocadas pela chupeta, mas a principal diferença é que o comportamento costuma ser mais difícil de cessar, pois o dedo faz parte do próprio corpo da criança e, portanto, está sempre disponível.
Hábitos devem ser desestimulados até os 3 anos
Embora sejam completamente contraindicados, os comportamentos de chupar dedos ou de usar chupeta devem ser desestimulados pela família até, no máximo, os três anos de vida da criança. Essa medida pode minimizar os impactos do hábito deletério, reduzindo o risco de alterações da arcada.
“Pelo risco de interferir na duração do aleitamento materno, o uso de chupeta nos primeiros meses de vida deve ser totalmente evitado. Mas, uma vez instalado o hábito, o ideal é que seja removido até o terceiro ano de idade, período em que ainda há capacidade de reversão das alterações orofaciais”, esclarece a odontopediatra Elisa Coelho.
Retirada deve ocorrer de forma acolhedora
Cada criança responde de uma forma diferente ao processo de retirada da chupeta, portanto, o manejo deve ser individualizado e feito com orientação de um odontopediatra. O cirurgião-dentista acompanhará a família durante todo o processo, ajudando a definir abordagens acolhedoras para tornar esse momento mais tranquilo para o paciente.
Entre as possíveis estratégias, está, por exemplo, a adoção de restrições de horário, com o uso da chupeta apenas em casa ou para dormir, até que o hábito seja completamente suspenso. Também podem ser usadas técnicas de reforço positivo, com pequenas recompensas ou metas que motivem a criança a abandonar os bicos artificiais.
Assim como a chupeta, a retirada do hábito da sucção do dedo deve ser feita de forma gradual e adequada ao nível de compreensão da criança, que varia conforme a idade. O odontopediatra, juntamente com os pais, vai definir quais são as melhores abordagens, respeitando as características individuais do paciente e considerando os impactos emocionais que essa restrição poderá significar.
O papel da Odontopediatria
As visitas regulares ao odontopediatra nos primeiros anos são fundamentais para monitoramento do desenvolvimento orofacial da criança. Além disso, esse profissional é o mais indicado para orientar pais e cuidadores sobre a prevenção e o controle de hábitos deletérios.
“O odontopediatra é o profissional que orientará o núcleo familiar na escolha da melhor estratégia para a remoção do hábito, de forma acolhedora e eficaz. Pequenas atitudes geram grandes resultados para a saúde geral e bucal da criança”, esclarece a vice-presidente da ABOPED, Letícia Vieira Pereira.
A família deve procurar apoio profissional caso o hábito de sucção persista após os três anos de idade, a criança apresente dificuldade na fala ou na mastigação ou sejam verificadas alterações visíveis na posição dos dentes ou na mordida da criança.
“O papel do odontopediatra é fundamental tanto na orientação preventiva quanto no acompanhamento do desenvolvimento orofacial da criança, garantindo que possíveis alterações sejam detectadas precocemente e tratadas no momento adequado”, conclui a odontopediatra Elisa Maria Rosa de Barros Coelho.


