CIRURGIAS FACIAIS: o trabalho e a competência do Cirurgião-Dentista e da Odontologia

Mulher agredida com 60 socos em Natal (RN) tem a face reconstruída por cirurgiões-dentistas; em meio a ataques infundados contra a capacidade e a competência da Odontologia, os colegas cirurgiões-dentistas trabalham e atendem os cidadãos brasileiros, devolvendo-lhes dignidade e qualidade de vida

O caso da mulher agredida com 60 socos em um elevador em Natal (RN) no dia 26 de julho chocou o Brasil. O episódio, registrado pelas câmeras de um elevador, resultou em múltiplas fraturas no rosto e maxilar da vítima. Ela precisou passar por uma cirurgia de reconstrução facial, realizada na última sexta-feira, 1 de agosto, por uma equipe de especialistas em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), coordenada pelo cirurgião buco maxilo facial Adriano Rocha Germano. 

O episódio que provocou ampla comoção nacional demonstra o grande valor da Odontologia no atendimento a quadros clínicos graves envolvendo as estruturas orofaciais. Seja no setor público, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), ou no setor privado, a Odontologia é a área da Saúde a quem compete atuação no atendimento a pacientes envolvendo as estruturas orofaciais em todo o país. Os atendimentos realizados por cirurgiões-dentistas nos hospitais brasileiros devolvem dignidade a vítimas de traumas faciais e, muitas vezes, podem significar a diferença entre a vida e a morte para estes pacientes. 

O Sistema Conselhos de Odontologia, formado pelo Conselho Federal de Odontologia e os 27 Conselhos Regionais, destaca que a cirurgia realizada pelo HUOL, que foi integralmente coberta pelo SUS, coloca em evidência o papel significativo da Odontologia e dos cirurgiões-dentistas, em especial, neste caso, dos especialistas em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial, na saúde da população.

A paciente vítima de 60 socos no rosto foi operada pela equipe chefiada pelo cirurgião-bucomaxilofacial Dr. Adriano Rocha Germano. Ela sofreu fraturas em estruturas que compõem nariz, olho, boca, bochechas e maxilar e passou por um procedimento de osteossíntese, que tem o objetivo de restabelecer a estética e a funcionalidade do rosto. A cirurgia foi feita sob anestesia geral e buscou a redução e fixação das fraturas com o uso de miniplacas e miniparafusos, além de uma revisão nas estruturas nasais.

A equipe que realizou a cirurgia foi capitaneada pelo Dr. Kerlison Paulino de Oliveira e contou ainda com os residentes, os cirurgiões-dentistas Dra. Acsa Carlos Maia, Dra. Letícia Gadelha de Castro Crisostomo, Dr. Artur Geovanni Borges Vital e Khalydia Oliveira Aby Faraj. Para o Dr Kerlison Oliveira, as fraturas foram graves e podem eventualmente deixar sequelas. Mas a cirurgia foi bem sucedida, tendo sido possível reconstituir a face após mais de 5 horas da cirurgia.

“Parabenizamos a equipe chefiada pelo Dr. Adriano Germano pela excelência, não apenas no atendimento a esse caso de grande comoção nacional, mas por todo trabalho desenvolvido diariamente dentro do centro cirúrgico deste hospital escola. Casos como esse levam para a sociedade a mensagem do quão importante é a Odontologia no atendimento a pacientes com quadros orofaciais de alta complexidade. É um trabalho que corrobora com a valorização da profissão e merece todo reconhecimento”, destaca o conselheiro federal do CFO, Dr. Eduardo Favilla, que é especialista em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Faciais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

O presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CBCTBMF), Dr. Belmiro Vasconcelos, ressaltou: “Os traumas faciais decorrentes de agressões físicas, especialmente contra mulheres, vão muito além das marcas visíveis. Afetam funções essenciais como mastigar, respirar e falar, comprometendo também a autoestima e a qualidade de vida da vítima. Dados do SUS mostram que até 8,7% das internações por violência em mulheres envolvem fraturas de face, e que a maioria dessas lesões é causada por tapas e socos, frequentemente desferidos por parceiros íntimos. É urgente que a sociedade reconheça essa realidade e que possamos oferecer atendimento especializado, reabilitação completa e apoio para que essas mulheres possam retomar suas vidas com dignidade.”

 

As altas competências do cirurgião-dentista

O cirurgião-dentista é o profissional que possui conhecimento aprofundado da anatomia facial humana e competência para realização das intervenções nas estruturas ósseas, músculos e pele, com cuidadosa atenção às terminações nervosas, veias e artérias, além das variações anatômicas de cada indivíduo. Os procedimentos cirúrgicos são realizados pelos especialistas na área de Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial. Dados compilados pelo CFO indicam que o Brasil possui hoje um total de 7,9 mil cirurgiões-dentistas bucomaxilofacial, que atuam em consultórios e dentro dos hospitais, devolvendo condições adequadas de função e estética orofacial aos pacientes.

Os cirurgiões-dentistas especialistas em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial são responsáveis pelos atendimentos envolvendo desde cirurgias de reconstrução facial de vítimas de traumas, incluindo acidentes de tráfego, acidentes desportivos, agressões e lesões por projétil de arma de fogo, até o tratamento das infecções orofaciais e emergências dentárias. Além disso, também são responsáveis nos hospitais pelas cirurgias de fissura labiopalatina, cirurgias para tratamento das deformidades faciais (cirurgia ortognática) e patologias como cistos e tumores da região da face e pescoço. Os profissionais devolvem a dignidade e qualidade de vida aos pacientes, sendo que, muitas vezes, fazem a diferença entre a vida e a morte.

Esta especialidade é regulamentada e possui o registro profissional controlado pelo Conselho Federal de Odontologia. Os especialistas passam por formação no formato de Residência Hospitalar ou Especialização com carga mínima de 3 mil horas (cerca de 3 anos) após a graduação como cirurgião-dentista.

 

CTBMF no HUOL

O programa de residência em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial (CTBMF) do Departamento de Odontologia e Hospital Universitário Onofre Lopes da UFRN, ligado à rede Ebserh, funciona desde 2010 e atende casos de média e alta complexidade na rede SUS. Segundo o chefe do Serviço, o cirurgião-dentista Adriano Rocha Germano, não tem sido incomum atender pacientes vítimas de violência, incluindo as tentativas de feminicídio. Durante esses 15 anos diversos pacientes foram operados e tiveram suas faces reconstituídas.

O serviço de CTBMF do HUOL conta com professores da UFRN e preceptores especializados vinculado à rede Ebserh que se revezam entre atividades teóricas e práticas, incluindo os ambulatórios e as cirurgias hospitalares, dando suporte aos residentes oriundos de todo Brasil que buscam o hospital escola para fazer sua formação na área, sendo um grande formador de recursos humanos e desempenhando um papel importante não só no ensino, mas também proporcionando uma assistência de qualidade.

 

Pacientes fraturados: estatísticas nacionais

Em média, 22,2 mil brasileiros sofrem lesões graves de face todos os anos. Os dados fazem parte de levantamento inédito realizado pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CBCTBMF) e encaminhado no início do mês de maio ao Conselho Federal de Odontologia (CFO), em razão da campanha Maio Amarelo. O levantamento do CBCTBMF foi realizado com base no Mapa Epidemiológico do Trauma Facial por Macrorregião e no relatório técnico da entidade e em meta-análise de recentes estudos publicados sobre o tema no país.

Segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), no período mais recente disponível, entre 2018 e 2023, foram registradas 133.687 internações por fraturas de crânio e ossos da face em caráter de urgência no país. Isso quer dizer que foram registradas, em média, 22,2 mil vítimas ao ano, o que representa mais de 60 brasileiros com rostos fraturados por dia.

Os números também traçam o perfil das vítimas, sendo que dentre os pacientes, 81,91% eram homens, com predominância da faixa etária de 20 a 29 anos (30,10%), e 47,79% se declararam pardos, seguidos por brancos (26,22%) e pretos (4,09%).  As principais causas externas identificadas nacionalmente para os traumas faciais, com base nos estudos analisados pelo CBCTBMF, são acidentes de trânsito, especialmente com motocicletas, seguidos por agressões físicas e quedas.