CFO Esclarece: a importância dos cuidados com a saúde bucal dos idosos

O Sistema Conselhos de Odontologia ressalta a importância dos cuidados bucais da pessoa idosa; brasileiros com mais de 60 anos representam 15,6% da população. 

O Dia dos Avós é comemorado hoje, dia 26 de julho, em diversas partes do globo. Em razão da data, o Sistema Conselhos de Odontologia, composto pelo Conselho Federal de Odontologia e os 27 Conselhos Regionais de todo país, alerta sobre a importância dos cuidados bucais na terceira idade e ressalta o papel da Odontologia como parte integrante no atendimento multidisciplinar à população idosa, que representa 15,6% dos brasileiros, de acordo com dados do Censo de 2022. 

O vice-presidente do CFO, Nazareno Ávila, aponta ainda que a expectativa de vida dos brasileiros subiu de 71,1 anos em 2000 para 76,4 anos em 2023, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em novembro de 2024, sendo esse outro dado que reforça a importância de um olhar ainda mais atento para a terceira idade. 

“Hoje são mais de 32 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais que merecem ter as funções orais preservadas para que possam sorrir, falar, mastigar e deglutir adequadamente. Ou seja, Saúde Bucal é sinônimo de qualidade de vida e a Odontogeriatria é a especialidade da Odontologia preparada para cuidar da saúde bucal do idoso de forma integral, considerando suas condições físicas, cognitivas, emocionais e sociais”, destaca.

A presidente da Câmara Técnica em Odontogeriatria do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), a periodontista e odontogeriatra Denise Tiberio, que é pós-graduada em Gerontologia, mestre e doutora em Ciências da Saúde e coordenadora do Curso de Especialização em Odontogeriatria na Escola de Ensino Albert Einstein, destaca que o Brasil foi o primeiro país do mundo a regulamentar a especialidade da Odontogeriatria, no ano de 2001, fato considerado um avanço importante no cuidado da saúde bucal na terceira idade. 

“Ser odontogeriatra é ter uma visão biopsicossocial do idoso, pois o profissional além de técnica e conhecimento científico para tomada de decisões clínicas, precisa conhecer o paciente como um todo, inclusive o contexto familiar e de cuidados em que está inserido. Levamos essa visão e sensibilidade tanto no consultório fixo, quanto no atendimento domiciliar e paliativo”, ressalta Denise Tibério.

 

Principais problemas bucais na terceira idade

Em razão do processo natural e progressivo de envelhecimento do organismo, que produz alterações fisiológicas, como a diminuição da acuidade visual e olfativa e da musculatura, muitas vezes o idoso fica impossibilitado de realizar os cuidados orais de forma adequada. Sendo assim, a doença periodontal e a cárie são problemas bucais mais prevalentes na cavidade oral da pessoa idosa, visto que higiene bucal deficiente aumenta o risco dessas doenças incidirem. 

A periodontista e odontogeriatra Denise Tiberio explica que, em razão desse quadro, o idoso também fica mais suscetível ao desenvolvimento das complicações decorrentes das infecções orais. “A doença periodontal é uma inflamação crônica que está relacionada com diversas doenças sistêmicas, como as cardíacas e diabetes; reumatoides, como a artrite reumatoide; e autoimunes, como lúpus eritematoso, entre outras. Estudos recentes sugerem inclusive ser um risco para doença de Alzheimer” explica a cirurgiã-dentista Denise Tibério.

Entre os problemas bucais mais recorrentes em idosos estão ainda a candidíase, lesões brancas, lesões traumáticas, perda de dentes ou fraturas de próteses, além da xerostomia que é caracterizada pela hipossalivação e sensação de boca seca. A Saúde Bucal também pode ser afetada por doenças sistêmicas que o idoso venha a desenvolver, assim como por medicamentos dos quais faça uso.

Além disso, na terceira idade, as pessoas estão mais propensas a sentirem os impactos de hábitos desenvolvidos durante toda a vida, como, por exemplo, rotinas alimentar e de higiene inadequadas e o uso do tabaco e álcool.

 

Prevenção e cuidados

O cirurgião-dentista tem papel fundamental para a promoção da saúde, diagnóstico, prevenção e tratamento de enfermidades bucais e do sistema estomatognático do idoso. Por isso é fundamental que os pacientes mantenham visitas periódicas ao cirurgião-dentista, que não devem exceder o intervalo de três meses.

O profissional fará uma avaliação do paciente, incluindo na anamnese todo o histórico de doenças e medicações que o paciente utiliza e que possam interferir na qualidade da saúde bucal. Também no consultório odontológico será possível realizar sessões de limpeza dentária, de forma a suprir eventual deficiência na rotina de higienização. 

O idoso também receberá instruções sobre bons hábitos de higiene e cuidados bucais, como escovação pelo menos três vezes ao dia, escolhendo escovas de dentes com cerdas ultramacias e cabeça pequena, além de creme dental com flúor e do fio dental ou escova interdental. Importante salientar que o número de escovações deve ser avaliado por um profissional e está diretamente relacionado com a força muscular, capacidade funcional, limitação visual e hábito alimentar do paciente.

Aqueles que fazem uso de próteses também devem dar especial atenção à higienização. Além disso, é importante que haja maior cuidado com a mucosa oral na terceira idade, pois devido a utilização de medicamentos de uso contínuo, elas estão mais suscetíveis a lesões que podem eventualmente evoluir para complicações mais graves.

 

O idoso de hoje e do amanhã

A periodontista e odontogeriatra Denise Tiberio explica que nas próximas décadas a terceira idade será diferente da atual geração de idosos. Menos beneficiada pelas políticas públicas de saúde bucal e de prevenção à doença cárie, essa faixa etária hoje convive com mito de que o envelhecimento leva à perda dentária.

As ponderações da odontogeriatra podem ser reforçadas pelas estatísticas nacionais. A Pesquisa Nacional de Saúde realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada em 2020 revelou que 34 milhões de brasileiros acima dos 18 anos perderam 13 ou mais dentes. Outros 14 milhões vivem sem nenhum dente na boca, sendo grande parte deles composta por idosos. 

“A utilização de flúor na água de abastecimento da população e como componente preventivo na pasta dentifrícia, não privilegiou essa população atual. Esse fator, somado a uma Odontologia do passado, faz com que esse grupo tenha grandes reabilitações, com desdentados totais ou parciais. Mas para os idosos do futuro, o prognóstico é diferente. Eles se beneficiam da utilização do flúor e possuem a cultura de preservação dos dentes, além de uma Odontologia mais preventiva”, complementa Denise Tibério. 

Nota: No Brasil, a comemoração do Dia dos Avós é realizada em 26 de julho, seguindo a influência religiosa católica, em razão à celebração de Santa Ana e São Joaquim, avós maternos de Jesus Cristo. Desde 2021 o Papa Francisco determinou que o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos deveria ser comemorado sempre no quarto domingo do mês de julho na Igreja Católica, que neste ano será em 27 de julho com o tema “Bem-aventurado aquele que não perdeu a esperança” (cf. Eclo 14, 2).