CFO lamenta imensamente a perda deste exemplo para a humanidade e espera que suas ações não sejam esquecidas. A Pastoral da Criança, criada por ela, receberá mais recursos federais para seguir seu trabalho no Haiti.
Um dos principais financiadores da Pastoral da Criança, desde 1985, o Ministério da Saúde calcula aumento de R$ 3,5 milhões no repasse de recursos para auxiliar o trabalho da entidade no Haiti.
Parceria: sociedade civil e poder público
A Pastoral recebe do governo, anualmente, cerca de R$ 40 milhões para atender 2 milhões de crianças. O resultado deste convênio com o Mistério da Saúde foi a redução, ao longo dos anos, da mortalidade infantil no país.
Durante velório da pediatra Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança e uma das vítimas do terremoto que devastou a capital haitiana, Porto Príncipe, no dia 12 de janeiro, o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que o trabalho desenvolvido pela entidade é um exemplo de parceria e bom uso dos recursos públicos.
Segundo Carvalho, Zilda Arns nunca perdeu a “autonomia cidadã” e, apesar da colaboração, a médica mantinha seu senso crítico com relação ao trabalho do governo.
Despedida e reconhecimento
Médica pediatra e sanitarista, Zilda Arns, de 75 anos, coordenava a Pastoral da Criança no Brasil, órgão de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Dona Zilda foi sepultada em Curitiba, no dia 16 de janeiro, como uma “mártir”. Além da cerimônia religiosa, voltada aos familiares, amigos e pessoas públicas presentes, uma multidão emocionada foi até o Palácio das Araucárias, sede do governo do Paraná, para prestar as últimas homenagens.
Apontada, em 2006, como candidata ao prêmio Nobel da Paz, Dona Zilda recebeu diversos prêmios pelo seu trabalho na área social: Woodrow Wilson, da Woodrow Wilson Foundation, em 2007; o Opus Prize, da Opus Prize Foundation (EUA), pelo inovador programa de saúde pública que ajuda milhares de famílias carentes, em 2006; Heroína da Saúde Pública das Américas (OPAS/2002); 1º Prêmio Direitos Humanos (USP/2000); Personalidade Brasileira de Destaque no Trabalho em Prol da Saúde da Criança (Unicef/1988) e Prêmio Humanitário (Lions Club Internacional/1997), entre outros.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que vai pedir um prêmio Nobel da Paz “pós-mortem” para a médica brasileira.
Conhecida por sua dedicação à saúde das pessoas mais vulneráveis, Zilda Arns personificava a solidariedade que habita em cada pessoa, renovando, assim, a esperança na humanidade.
O Conselho Federal de Odontologia l espera que suas ações sejam fortalecidas por todos os que desejam o acesso democrático aos serviços de saúde.
Biografia e legado
Zilda Arns Neumann nasceu em Forquilhinha (SC) e residia em Curitiba, no Paraná. Mãe de cinco filhos, escolheu a medicina como sua missão de vida. Sua experiência como diretora de Saúde Materno-Infantil, da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, e especializações em saúde pública, fizeram com que fosse convidada, em 1980, para coordenar a campanha de vacinação Sabin no estado. Seu método foi adotado, posteriormente, pelo Ministério da Saúde.
Em 1983, em conjunto com a Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), criou a Pastoral da Criança, uma organização comunitária, de atuação nacional e internacional, que tem seu trabalho baseado na solidariedade. O objetivo da entidade é promover o desenvolvimento integral das crianças pobres, em seu contexto familiar e comunitário, a partir de ações preventivas de saúde, nutrição, educação e cidadania, realizadas por milhares de voluntários capacitados sem distinção de raça, cor, profissão, nacionalidade, sexo, credo religioso ou político.
Zilda Arns considerava a Pastoral da Criança Internacional um marco para o fortalecimento e a expansão das ações educativas junto às famílias pobres.Foram fundadas unidades em 17 países: Argentina, Bolívia, Honduras, Colômbia, República Dominicana, Panamá, México, Guatemala, Paraguai, Venezuela e Uruguai, na América Latina; Angola, Guiné, Guiné-Bissau e Moçambique, na África; Timor Leste e Filipinas, na Ásia.
Soluções simples e eficazes: soro caseiro e multimistura
Até 2008, a Pastoral acompanhava mais de 1,9 milhões de gestantes e crianças menores de seis anos e 1,4 milhão de famílias pobres, em 4.063 municípios brasileiros. A mortalidade infantil era combatida com meios simples: o soro caseiro, alimentação e recursos mínimos.
O soro caseiro, feito de água, açúcar e sal foi o grande aliado no combate à desidratação. E a multimistura feita de casca de ovo, arroz, milho, semente de abóbora e outros ingredientes foi, e continua sendo, a grande arma contra a desnutrição.
Em 2004, a Dona Zilda Arns recebeu outra missão semelhante da CNBB: fundar, organizar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa. Atualmente, mais de 129 mil idosos são acompanhados todos os meses por 14 mil voluntários.
Dona Zilda deixou grandes ensinamentos. O maior deles, talvez, seja a maneira como disseminou a solidariedade. Ela tinha a consciência de que os problemas sociais se resolvem a partir da mobilização da própria sociedade.
Saiba mais no site da Pastoral.