A três dias de o país conhecer o próximo presidente da República e na data em que se celebra o Dia Nacional do Cirurgião-Dentista, o presidente do Conselho Federal de Odontologia (CFO), Juliano do Vale, 45, fez um apelo para que o homem que ocupará o Palácio do Planalto nos próximos quatro anos dê à saúde bucal a importância que ela necessita em benefício da população. Ele cobra valorização dos cirurgiões-dentistas e a criação de verdadeiras e eficientes políticas públicas de saúde bucal, além de lutar para que o cidadão tenha a consciência da importância da saúde bucal para seu cotidiano. “O próximo presidente do Brasil deve olhar para a odontologia como parte fundamental no atendimento pleno de saúde, de qualidade e eficaz aos cidadãos brasileiros e não apenas como um complemento, o que definitivamente não é. A saúde bucal reflete diretamente na saúde integral dos pacientes”, declarou.
Juliano do Vale disse esperar dos candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), que disputam o segundo turno das eleições neste domingo, dia 28, compromisso com a saúde da população. “É preciso comprometimento do governo federal para implementar e cobrar de todos os governos estaduais e municipais políticas eficientes de saúde, e principalmente de saúde bucal”, afirmou.
Ele citou, por exemplo, que há resistência de alguns gestores públicos em contratar um cirurgião dentista por questões de economia. “É uma justificativa nociva ao cidadão. E não condiz com a realidade. O atendimento de saúde bucal pode até reduzir o tempo de internação de pacientes nos hospitais, melhorando a sua qualidade de vida e reduzindo drasticamente as possíveis complicações e agravamentos e também sequelas, além de uma possível redução dos custos da internação”, disse. Recentemente, uma pesquisa identificou que 16 milhões de brasileiros não têm sequer um dente na boca, um reflexo da ineficiência das políticas de saúde bucal no Brasil.
Juliano do Vale lembrou que, em 2017, participou de cerimônia no Palácio do Planalto, onde o presidente Michel Temer anunciou cerca de R$ 344,3 milhões para o atendimento de saúde bucal por meio do SUS (Sistema Único de Saúde). “Passado um ano, metade deste valor não foi executado. Em alguns dos casos, o dinheiro deixou de ser investido porque municípios não apresentaram projetos para obtenção dos recursos. Isso mostra que, para o poder público, infelizmente, a saúde bucal não é prioridade”, disse.
Do total, R$ 182,1 milhões efetivamente foram empregados na saúde bucal. O dinheiro, conforme o anúncio, seria utilizado na compra de 10 mil cadeiras odontológicas e 17 unidades odontológicas móveis (UOMs), além do custeio de 2.299 equipes de saúde bucal e 34 equipes de UOMs. Seriam beneficiadas 104 milhões de pessoas, informou na época o Ministério da Saúde. A meta era ampliar a cobertura para atingir pelo menos 111 milhões de brasileiros, ou seja, 42% da população.
OS PRINCIPAIS PROBLEMAS
Atualmente há no Brasil aproximadamente 500 mil profissionais da odontologia, entre cirurgiões-dentistas, técnicos e auxiliares. Para o presidente do CFO, a baixa remuneração no setor público, as condições de trabalho inadequadas e falta de vagas em unidades são alguns dos principais problemas enfrentados pelos cirurgiões-dentistas do Brasil. “O poder público deve ter em mente que a prestação dos serviços de saúde pública no Brasil hoje não é plena porque falta a valorização da odontologia, da saúde bucal. Muitas infecções e doenças se originam nos leitos dos hospitais principalmente pela falta de cuidados com a boca do paciente”, comentou. “O exemplo é claro: um paciente quando está internado em um hospital, necessita constantemente de cuidados de cirurgiões dentistas porque sua boca está exposta a um ambiente extremamente crítico. É certo que estão ocorrendo óbitos por falta dos cuidados desse profissional, e que poderiam ser evitados, e que muitas vezes sequer são registrados”, complementou.
POPULAÇÃO DESASSISTIDA
Hoje a reivindicação da odontologia é focada em quatro eixos principais: ampliação dos investimentos em saúde bucal e aumento da oferta de serviços odontológicos; criação de carreiras do Serviço Único de Saúde (SUS) com piso salarial nacional adequado para os profissionais; suspensão pelo Ministério da Educação (MEC) de autorização de novas faculdades ou aumento de vagas em cursos de odontologia; e proibição dos cursos na modalidade EAD (ensino à distância).”É mais do que urgente a ampliação do atendimento de saúde bucal no país. A saúde bucal obrigatoriamente tem que ser prioridade nas discussões e na implementações de políticas públicas de atendimento ao cidadão, como determina a Constituição. A população está desassistida”, declarou.
REPRESENTATIVIDADE
Para minimizar esses problemas, o CFO adotou uma estratégia para melhorar a representatividade da classe. Em conjunto com os conselhos regionais nos Estados, a autarquia se mobilizou e criou a Frente Parlamentar da Odontologia no Congresso Nacional, com adesão de quase 400 deputados federais. Com isso, há participação e acompanhamento mais próximos dos projetos de lei do interesse da odontologia no Brasil. “É no Congresso que se discutem as leis que mudam e impactam a vida de todos nós. Decidimos criar a Frente Parlamentar justamente para que o cirurgião-dentista possa se sentir representado no Congresso. Graças à Frente Parlamentar, o CFO, os conselhos regionais e os profissionais da odontologia estão representados e têm voz na Câmara e no Senado”, finalizou Juliano do Vale.