“Ter dentes bons para mastigar
E aproveitar bem os alimentos
Ter dentes bons para ser forte”
(Livro de Saúde Bucal – Secad/MEC)
Mais de 500 anos depois dos primeiros contatos entre índios e europeus, os homens brancos ainda precisam aprender muito sobre a cultura e como vivem os povos que já habitavam o Brasil antes da chegada dos portugueses.
Segundo dados do Censo do IBGE, de 2010, a população indígena brasileira soma mais de 800 mil, com 305 diferentes etnias. Em sua grande maioria, ela enfrenta uma acelerada e complexa transformação social, necessitando buscar novas respostas para a sua sobrevivência física e cultural, a fim de garantir às próximas gerações melhor qualidade de vida.
Um dos aspectos que ainda é muito pouco conhecido é a saúde bucal. Segundo a cirurgiã-dentista aposentada, Maria Aparecida Guerra, “Cida”, a situação da saúde bucal desses povos é crítica e causada, principalmente, pelo contato com o branco, que permitiu a mudança dos hábitos alimentares e de higiene. “Com o contato vieram o açúcar, a bolacha e o arroz, mas não vieram a escova e a pasta com flúor”, diz a especialista. Cida trabalhou com os povos Satere-Mawe e os Ticuna, ambos da região Amazônica, e conta que, de acordo com relatos, esses povos sempre tiveram uma forma especial (ou peculiar) de cuidar dos dentes e da saúde em geral.
Os Ticunas cuidavam da higiene, desde antes do nascimento dos dentes. Eles passavam jenipapo na gengiva da criança para que nascessem fortes. Na fase adulta, depois de mastigar a carne, eles lavavam a boca com água e mastigavam wotcha, uma planta da mata. Também usavam fio de tucum para limpar os dentes e escovavam com um talo de capim, igual a um pincel, conta a cirurgiã-dentista. Ainda não tinham o conhecimento de hoje.
Troca de saberes – No período em que se dedicou ao trabalho indígena, Cida participou de oficinas com professores indígenas sobre a saúde na escola. “Esses professores eram muito importantes porque resgatavam a história dos mitos ligados ao dente, aos hábitos de higiene e alimentação e transmitiam aos alunos”, conta a especialista. A partir dessas oficinas, foi elaborado o Livro de Saúde Bucal, com ilustrações feitas pelos índios e com a participação dos professores ticunas e contadores de histórias das aldeias.
Ela conta que, desde 1999, o governo promove ações educativas com os povos indígenas e adotou políticas públicas para a saúde bucal. A partir daí, disponibiliza escovas e pastas de dente para a população. “Se a população indígena mudou o hábito alimentar de tempos antigos, teve que adotar hábitos de higiene bucal coerentes com a alimentação” finaliza.
Brasil Sorridente Indígena – o governo federal lançou, em 2011, o Brasil Sorridente Indígena, uma política do Ministério da Saúde (MS), coordenado pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e pela Secretaria de Atenção à Saúde (SAS), que pretende zerar as necessidades odontológicas nas aldeias. É a extensão do Programa Brasil Sorridente, lançado pelo MS, em 2004, adaptado e aplicado às especificidades e complexidades da saúde indígena. O objetivo é ampliar o acesso ao atendimento odontológico nas aldeias, estruturando e qualificando os serviços de saúde bucal nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). Essa é a primeira política nacional elaborada especificamente para tratar da saúde bucal desses povos.
Afinal, saúde bucal é para todos os brasileiros!
Comunicação do CFO