Os cirurgiões-dentistas que trabalham nos 34 distritos sanitários especiais indígenas (DSEIs) do Ministério da Saúde vivem uma realidade profissional bastante distinta da maioria dos CDs. As condições de trabalho, principalmente em aldeias na Floresta Amazônica, são bastante desafiadoras, mas os profissionais relatam a satisfação de prestar serviços essenciais para os povos originários do nosso território.
A CD Jorilda Alves de Souza Monteiro trabalhou durante anos no DSEI Porto Velho, sediado na capital do Estado de Rondônia. O distrito cobre quatro polos em Rondônia (Guajará-Mirim, Ji-Paraná, Alta Floresta d”Oeste e Porto Velho) e um no sul do Estado do Amazonas (Humaitá), além de um subpolo em Jaru (Rondônia).
As oito equipes do DSEI, compostas por CDs, auxiliares de saúde bucal (ASB) e enfermeiros (e médicos em alguns casos), passam períodos em 20 dias nas áreas indígenas, intercalados com dez dias de descanso. Jorilda critica a forma de contratação dos CDs que trabalham nos DSEIs, que é geralmente por meio de organizações não governamentais (ONGs).
A viagem até as comunidades é feita por barco e a equipe leva materiais e equipamentos, como cadeira portátil, compressor e, por vezes, gerador de energia.
Segundo Jorilda, os indígenas na região do DSEI Porto Velho têm contato com a sociedade comum há cerca de 35 anos. A maior parte dos grupos habita um local fixo, mas há indígenas seminômades, o que representa um desafio adicional para o tratamento. A população estimada na região é de 12 a 13 mil indígenas.
Os CDs ficam em alojamento nas aldeias, que pode ser de alvenaria, madeira ou até mesmo palha. O trabalho consiste principalmente na atenção básica: restauração, extração de dentes, periodontia, aplicação de flúor, ensinar como fazer a escovação, troca de escovas etc.
“O contato com a sociedade trouxe sabores e dissabores. A dieta passou a ser mais variada, contando com açúcares e carboidratos, mas surgiram novos problemas de saúde. Eu diria que o contato não trouxe benefícios e cuidados na mesma proporção que problemas. Os estudos indicam que houve um prejuízo para os indígenas,” relata Jorilda, que é originária da Paraíba e já foi consultora da Unesco e superintendente da Funasa.
Entre os ganhos, Jorilda cita a substituição do método tradicional de limpeza dos dentes com raízes pela escovação com escova e pasta de dente com flúor. Mas os indígenas da região mantém hábitos que representam riscos para a dentição, como partir castanhas duras com os dentes.
“Felizmente, contamos com material odontológico de primeira qualidade. Não pode ser diferente. Depois do trabalho, muitas vezes eles perguntam se podem partir castanha com os dentes.”