A halitose não é uma doença, mas o indício de que há algo errado com o organismo: saiba como enfrentar o problema

Especialistas afirmam que pelo menos 90% da população terá, ou já teve, halitose em algum momento da vida.

Há três anos, Paulo* descobriu que tinha halitose. O alerta foi feito pela mulher dele. A constatação o deixou inseguro e retraído diante das pessoas. Ir para o trabalho o deixava nervoso, e a possibilidade de ter que conversar com alguém era pavorosa. “Não sentia que tinha mau hálito, mas sabia que ele estava ali. Era constrangedor para mim”, relata o servidor público. Por algum tempo, Paulo fez uso de balas e enxaguatório bucal, para poder se sentir seguro diante das pessoas, mas os artefatos não resolviam o problema. “O mau hálito passava por um tempo, mas voltava mais forte”, conta.

A história de Paulo é mais comum do que a maioria das pessoas imagina. “É importante que as pessoas saibam que a halitose não é uma doença, mas sim um sinal, ou sintoma, de que alguma coisa não vai bem no organismo”, esclarece Celi Vieira, periodontista, pesquisadora e especialista em halitose da Universidade de Brasília (UnB).

Segundo a acadêmica, a causa mais comum do problema são as doenças periodontais, como a gengivite, provocada pela falta de higiene correta da boca e dos dentes. “A má escovação, a falta de uso do fio dental e da limpeza do dorso da língua, pelo menos duas vezes ao dia, causam o mau hálito.” Porém, outra causa de halitose, pouco conhecida mesmo pelos dentistas, são as chamadas sistêmicas; ou seja, aquelas provocadas por alterações no organismo, que podem indicar alguma doença. Elas vão desde alterações metabólicas – como diabete, insuficiência renal – a até mesmo um primeiro sinal de problemas mentais e neurológicos, como esquizofrenia, mal de Parkinson e epilepsia. “É o que chamamos de pseudo-halitose”, ensina Celi Vieira.

O indício mais comum de halitose, além do odor, é a presença de saburra lingual – uma fina camada marrom esbranquiçada, encontrada no dorso da língua. Essa saburra nada mais é do que massa composta de células descamadas da boca, bactérias e restos alimentares, que aderem à superfície da língua. Sua causa é a má higiene bucal ou a falta de saliva suficiente para fazer a limpeza natural da boca. “Tudo aquilo que favorece a estagnação de matéria orgânica na boca pode causar o mau hálito”, explica a especialista da UnB.

Estômago

Considerado pela maioria das pessoas como o vilão do mau hálito, o estômago é uma das últimas causas da halitose. “Não tem nada a ver com o estômago, mas com o ar que sai do pulmão”, esclarece Celi Vieira. De acordo com o gastroenterologista Flávio Egima, a maioria das pessoas que procuram seu consultório por conta da halitose acha que a causa é problema no estômago. “Isso virou uma crença errônea. O estômago não influi em nada no mau hálito.” Egima explica que, antes de culpar o órgão, as pessoas devem levar em consideração problemas respiratórios, intestinais e renais.

“Na maioria das vezes, a sinusite, a rinite e a amigdalite frequentes são as causadoras da halitose. Até mesmo uma prisão de ventre tem como consequência o mau hálito”, diz o médico. O estômago só se torna o vilão quando há um tumor avançado, que provoca a necrose de partes do órgão, exalando mau cheiro, que sai pela boca.

A halitose tem tratamento e cura. Porém, não existe remédio milagroso contra o problema. Os enxaguatórios bucais apenas mascaram e, em alguns casos, até podem acentuar o odor. Entre as orientações de tratamento de uma halitose real está a dieta equilibrada e a melhor forma de consumir alimentos. “Ensinamos ao paciente como mastigar para que ele produza mais saliva”, diz Celi Vieira.

No caso da pseudo-halitose, são restabelecidos os padrões salivares – às vezes, com o uso de saliva artificial -, além da reposição de vitaminas e minerais. “Em casos em que é diagnosticada alguma doença sistêmica, ou alteração metabólica, o tratamento é feito juntamente com o médico especialista”, acrescenta a pesquisadora. Tanto para Egima quanto para Celi Vieira, o hálito é uma ferramenta de diagnóstico. “Dizer respeitosamente à pessoa que o hálito dela está alterado é um benefício que se está fazendo a ela”, afirma a especialista.

* Nome fictício a pedido do entrevistado

Fonte: Correio Braziliense – 04/01/2010