CFO Esclarece: Diastema – corrigir ou não corrigir? Eis a questão!

O espaço entre os dentes tem razões multifatoriais e pode afetar a aparência dos sorrisos, sendo que, em alguns casos, os impactos vão além da estética

 

O diastema é uma condição caracterizada pela existência de um espaço maior que o normal entre dois dentes vizinhos. Na maior parte das vezes, esse quadro afeta apenas a aparência, sendo que sua correção passa a ser uma decisão dos pacientes. Muitos deles optam pela reparação estética, em busca de um sorriso mais harmônico; por outro lado, algumas pessoas preferem manter a separação entre os dentes, como é o caso de algumas personalidades, como os cantores Madonna e Ney Matogrosso, em que o diastema se tornou marca registrada de seus sorrisos.

 

O problema é que, em alguns quadros, o diastema pode ter reflexos que vão além dos prejuízos meramente estéticos e afetar também as funções orais. Nesses casos, há indicação clínica de correção, que deve ser discutida entre o cirurgião-dentista e o paciente ou responsáveis, no caso de crianças; de forma que sejam avaliadas as possibilidades de tratamento e os objetivos a serem alcançados.

 

Por este motivo, o programa CFO Esclarece, voltado à divulgação de informações com foco na classe odontológica e na população em geral, traz orientações sobre o que é o diastema, causas e formas de tratamento.

 

“As famílias devem ficar atentas porque o diagnóstico do diastema deve ser feito ainda na infância. Além de resolver questões estéticas, o tratamento pode melhorar as funções da fala e da mastigação, prevenindo ainda o acúmulo de alimentos e o risco de problemas gengivais”, destaca a conselheira federal do CFO, Sandra Regina Pereira Silvestre, doutora em Odontopediatria e especialista em Ortodontia.

 

Por que ocorre o diastema?

O diastema pode ter múltiplas causas, sendo geralmente fruto de uma associação de fatores anatômicos, funcionais e comportamentais. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial de Alagoas (ABOR AL), Hibernon Lopes, mestre e doutor em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as causas para o diastema podem ser: causas dentárias genéticas, freio labial hipertrófico, hábitos bucais deletérios, perda dentária precoce e doença periodontal.

 

– Causas dentárias genéticas: quando há discrepância entre o tamanho dos dentes e o osso (dentes pequenos em bases ósseas largas), como também dentes que se apresentam de forma individualizada com tamanho reduzido (microdente), dentes ausentes geneticamente (agenesias) ou dentes a mais, supranumerários (como o mesiodens) que não irrompem na cavidade bucal e impedem os incisivos centrais superiores de se juntarem;

– Freio labial hipertrófico: com inserção baixa e volumosa que fica entre os incisivos centrais impedindo o contato entre os dentes vizinhos (adjacentes);

– Hábitos bucais deletérios: como sucção digital (dedo), uso prolongado de chupeta ou interposição lingual que promovem inclinação para frente dos incisivos e com isso também o afastamento dos dentes;

– Perda dentária precoce: ou seja, ausência de dentes decíduos ou permanentes que provoca migração dos dentes remanescentes, abrindo espaços entre eles; 

– Doença periodontal: pode provocar perda óssea gerando mobilidade e abertura de espaços.

 

Prejuízos do diastema 

Embora o diastema seja muito associado à separação entre os dentes incisivos centrais superiores, essa condição pode ocorrer em qualquer área da arcada. Em alguns casos, a distância inadequada entre os dentes pode favorecer o acúmulo de resíduos alimentares entre as gengivas. Isso porque o ponto de contato proximal entre os dentes protege a papila interdental do impacto da mastigação e, por sua vez, combate a entrada de alimentos e bactérias que podem causar cáries e doenças gengivais.

 

O diastema também pode estar associado a quadros de baixa autoestima, uma vez que pacientes descontentes com a estética do sorriso podem sofrer com dificuldades na condução das relações interpessoais, o fechamento está indicado. Há ainda os casos em que a separação entre os dentes pode interferir na fonética e na mastigação, especialmente em pacientes na primeira infância. 

 

Diastema em cada fase da vida do paciente

A conselheira federal e odontopediatra Sandra Silvestre explica que o diastema pode, ou não, existir na arcada de dentes decíduos e complementa que existem dois tipos de arcos dentários. O arco tipo 1 apresenta diastema entre todos os dentes de leite e o tipo 2 não possui espaço entre os elementos dentais.

 

O diastema presente nos arcos decíduos é, portanto, normal e desejável, uma vez que propicia a erupção da dentição permanente de forma adequada. Nesse caso, é classificado como diastema fisiológico, ou seja, considerado normal, e tem função muito importante para o desenvolvimento da dentição, já que garante espaço para alinhamento da arcada permanente. 

 

Nesses casos, não há necessidade de fechamento do diastema, pois isso acontece de forma natural. Mas o acompanhamento com o cirurgião-dentista durante a infância é fundamental para o profissional possa acompanhar a evolução do paciente e verificar se o desenvolvimento está ocorrendo de forma adequada.

 

Quando o paciente chegar à adolescência, sem possuir mais nenhum dente de leite na boca, e ainda continuar com o diastema, aí, sim, a necessidade de avaliação dos possíveis tratamentos. Além disso, é importante frisar que caso o diastema surja na idade adulta pode ser um sinal de que algo não vai bem com a saúde bucal, com possibilidade de doenças periodontais e perdas ósseas. 

 

Possibilidades de tratamento

O diastema não deve ser visto apenas como um problema estético, mas também como um sinal clínico que pode indicar alterações no desenvolvimento orofacial ou de saúde periodontal. A decisão de tratá-lo deve ser baseada em uma avaliação criteriosa, considerando idade, causa, expectativas estéticas e função.

 

O tratamento pode envolver diversos tipos de abordagens, a depender principalmente, da causa do diastema, sendo que, muitas vezes, ele deve ser multidisciplinar, envolvendo ortodontista, periodontista e os cirurgiões-dentistas com atuação voltada à estética dental como, por exemplo, os especialistas em Dentística e Prótese Dentária. A definição dos procedimentos a serem adotados dependerá de uma avaliação do profissional, que poderá apresentar ao paciente o melhor planejamento para cada caso de forma individualizada.

 

Quando houver necessidade de movimentação e alinhamento da arcada, pode ser realizado tratamento ortodôntico, com a utilização de aparelhos fixos ou alinhadores para fechamento dos espaços entre os dentes. Nos casos em que o freio labial é fator principal, pode ser realizada a remoção cirúrgica ou plástica do freio labial, procedimento chamado de frenectomia. O tratamento periodontal é necessário quando o diastema é consequência de perda óssea em razão de doenças periodontais.

 

Além disso, quando houver unicamente a indicação de fechamento do espaço entre os dentes, sem necessidade de outros tratamentos complementares, o cirurgião-dentista deverá optar pelas restaurações estéticas, com a utilização de resinas compostas, facetas ou coroas. O mesmo pode ser feito em casos de microdontia ou desproporção entre o tamanho dos dentes.

 

Todo diastema deve ser corrigido?

A resposta para essa pergunta é “não”. Esse é o caso dos diastemas fisiológicos e transitórios, como o diastema interincisal, que surge durante o desenvolvimento da dentição mista e tende a ser corrigido naturalmente com a erupção dos caninos permanentes.

 

“O diastema somente deve ser tratado quando persiste após o desenvolvimento dentário, compromete a estética ou a função mastigatória/fonética ou então está associado a alterações estruturais, funcionais ou patológicas”, explica o cirurgião-dentista Hibernon Lopes.

 

A conselheira federal Sandra Silvestre conclui: “Na prática, a indicação clínica de correção só existe quando o diastema traz prejuízos à saúde bucal. Nos casos em que os impactos são meramente estéticos, o cirurgião-dentista deve fazer as orientações pertinentes, mas essa decisão passa a ser do paciente ou de seus familiares”.

 

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