Dia Nacional de Combate ao Câncer: CFO reforça a importância da prevenção e do diagnóstico precoce

Odontologia tem atuação essencial no diagnóstico, prevenção e cuidado de pacientes com cânceres da face, cabeça e pescoço

 

No Dia Nacional de Combate ao Câncer, celebrado em 27 de novembro, o Sistema Conselhos de Odontologia, composto pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) e os 27 Conselhos Regionais (CROs) de todo o país, alerta sobre a importância do combate e diagnóstico precoce dos cânceres de boca, de face e de cabeça e pescoço. Nessa área, o cirurgião-dentista desempenha um papel essencial para a prevenção e identificação da doença, além de orientação e acompanhamento dos pacientes que estão em tratamentos de quimio ou radioterapia.

 

Instituída pela Portaria do Ministério da Saúde GM nº 707, de dezembro de 1988, a data tem o objetivo de reforçar a atenção para a necessidade de fortalecer ações de prevenção, ampliação do acesso ao diagnóstico e garantia de tratamento adequado aos pacientes em todo o país, além de mobilizar a sociedade, profissionais de saúde e gestores públicos em torno de uma das doenças que mais impactam a vida dos brasileiros.

 

Com base nisso, o programa CFO Esclarece destaca que o cirurgião-dentista é fundamental nas diferentes etapas dos atendimentos oncológicos, em uma abordagem multidisciplinar. A inclusão da Odontologia nos tratamentos de câncer representa um avanço na garantia de cuidado integral, seguro e humanizado, contribuindo diretamente para melhores desfechos clínicos, maior qualidade de vida e uma assistência mais eficiente e resolutiva aos pacientes oncológicos em todo o país.

 

Cânceres mais comuns na boca

O cirurgião-dentista, especialista em Estomatologia e responsável pelo Serviço de Estomatologia do A.C.Camargo Cancer Center, localizado em São Paulo (SP), Fábio de Abreu Alves, relata que é importante dividir a cavidade oral em três partes: lábios, boca (língua, assoalho, parte interna das bochechas, gengiva e palato) e orofaringe (região posterior da boca, amígdalas e base da língua).

– Lábios: a exposição solar é o principal fator de risco. Por isso a importância do uso de protetor labial com fator de proteção solar.

 

– Boca e orofaringe: o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas são os fatores de risco mais relevantes. Evitar qualquer tipo de cigarro e consumir álcool de forma responsável são medidas fundamentais de prevenção.

 

– Orofaringe (especialmente amígdala e base de língua): a infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV), especialmente o tipo 16, é um fator de risco importante. A transmissão ocorre principalmente por sexo oral. Ter um parceiro fixo e utilizar métodos de proteção são estratégias eficazes de prevenção.

 

“Em todas essas regiões, o carcinoma espinocelular (CEC), também chamado de carcinoma epidermoide ou carcinoma de células escamosas, é o tipo mais comum de câncer, representando cerca de 90% dos casos. O que varia de forma importante entre essas áreas são os fatores de risco”, relata Fábio Alves, que complementa: “clinicamente, o carcinoma espinocelular (CEC) pode se apresentar inicialmente como úlcera que não cicatriza, geralmente indolor no início, o que muitas vezes retarda a busca por atendimento”, pontua.

 

Cânceres faciais mais comuns

O cirurgião-dentista, mestre e doutor em Estomatologia e Patologia Oral e membro da Câmara Técnica de Patologia Oral e Maxilofacial do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Alan Roger dos Santos Silva, explica ainda que “os cânceres da face e da região de cabeça e pescoço abrangem um conjunto amplo de tumores que podem afetar a pele, as mucosas, as glândulas salivares, os ossos faciais e as estruturas adjacentes”.

 

Entre eles destacam-se:

–  Carcinoma basocelular, tumor maligno mais frequente na face, fortemente associado à exposição solar acumulada ao longo da vida.

– Carcinoma espinocelular, acomete pele e mucosas, sendo também o câncer oral mais comum, fortemente relacionado ao tabagismo e ao consumo de álcool.

– Melanoma, a forma mais agressiva de câncer de pele.

– Neoplasias de glândulas salivares, como carcinoma mucoepidermoide e carcinoma adenóide cístico, tumores raros, porém infiltrativos e com risco elevado de recorrência.

– Tumores ósseos, como osteossarcomas e outros sarcomas que podem acometer mandíbula e maxila.

– Linfomas Hodgkin e não-Hodgkin, que podem se manifestar em linfonodos cervicais, pele, mucosas e ossos da região facial.

– Câncer de orofaringe associado ao HPV, cuja incidência vem crescendo mundialmente e está ligado principalmente à transmissão pelo sexo oral.

 

Diagnóstico precoce

Apesar de distintas origens e comportamentos clínicos, todos os diferentes tipos de tumores compartilham um ponto crucial: a importância de identificação do câncer em fase inicial. “O diagnóstico precoce, frequentemente realizado por cirurgiões-dentistas, especialmente estomatologistas, que identificam lesões suspeitas, realizam biópsias e encaminham o material para análise por patologistas orais, é essencial para o sucesso do tratamento”, destaca Alan Roger.

 

O diagnóstico precoce do câncer de boca pode salvar vidas, orienta Fabio Alves. “Cerca de 90% dos tumores detectados em fase inicial são curáveis, muitas vezes com pouca ou nenhuma sequela para o paciente. Nesse contexto, o cirurgião-dentista desempenha um papel essencial na prevenção, detecção precoce e orientação sobre fatores de risco e medidas de proteção”, complementa.

 

Sinais de alerta e prevenção

Entre os principais sintomas e sinais de alerta iniciais, a serem observados pelos pacientes, estão a presença de placas brancas e manchas vermelhas na cavidade oral. Com sua evolução (alguns meses), o tumor tende a aumentar de tamanho e infiltrar os tecidos adjacentes, como musculatura, mucosa vizinha, glândulas salivares menores e, em casos mais avançados, até estruturas ósseas. 

 

“Essa progressão leva ao aparecimento de dor e perda da função do órgão. Exemplo: a língua pode perder sua mobilidade; trismo, que é a diminuição da abertura bucal; dentes amolecidos e alterações da fala. Sangramentos sem nenhuma justificativa também podem ser um sinal do câncer de boca”, esclarece Fabio Alves.

 

O CFO Esclarece que tão importante quanto o diagnóstico precoce é o combate ao câncer. As ações de prevenção envolvem medidas amplamente reconhecidas, como uso diário de proteção solar, inclusive nos lábios; abandono do tabagismo e redução do consumo de álcool; vacinação contra o HPV; e consultas regulares ao cirurgião-dentista para ações preventivas em saúde bucal e avaliação precoce de alterações orais.

 

A Odontologia no tratamento oncológico

A participação do cirurgião-dentista é decisiva em todas as etapas do tratamento de câncer, especialmente em modalidades como radioterapia, quimioterapia, transplante de células-tronco hematopoéticas e cirurgias oncológicas da região de cabeça e pescoço. Antes mesmo do início do tratamento médico, o cirurgião-dentista já realiza uma avaliação rigorosa da cavidade oral para identificar focos de infecção e condições que possam se agravar durante a terapia antineoplásica. 

 

“A adequação do meio bucal inclui controle de infecções dentárias e periodontais, profilaxias, restaurações, tratamentos endodônticos e extrações estratégicas, garantindo que o paciente comece o tratamento com a boca em condições ideais. Além disso, intervenções como fotobiomodulação, medidas de higiene bucal individualizadas, controle da dor e ajustes dietéticos são fundamentais para preservar a função oral e evitar interrupções no tratamento”, explica Alan Roger.

 

Durante a radioterapia e a quimioterapia, o acompanhamento odontológico é contínuo e essencial inclusive para tratamento de efeitos adversos. “O cirurgião-dentista atua no manejo da mucosite, da xerostomia, candidíase, infecções oportunistas, trismo, disfagia e alterações do paladar e outras alterações orais comuns, orientando medidas de cuidado, prescrevendo tratamentos adequados e acompanhando de perto a evolução do quadro para promover conforto, segurança e melhor qualidade de vida ao paciente”, complementa.

 

A Odontologia também atua na prevenção e no manejo de complicações tardias, como osteorradionecrose, osteonecrose medicamentosa e cárie de radiação, condições que podem comprometer a continuidade e a segurança do tratamento, além de impactar a qualidade de vida. 

 

Após a conclusão das terapias, o cirurgião-dentista ainda permanece envolvido no acompanhamento a longo prazo, muitas vezes em parceria com especialistas em Prótese Bucomaxilofacial, colaborando para a reabilitação oral e para a detecção precoce de possíveis recidivas locais.